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allan de lana

quinta-feira, novembro 28, 2002

Acabo de redigir um e-mail para a lista do CAPLAS com os assuntos das reuniões de hoje e não pude resistir, apesar de já ser um pouco tarde para continuar aqui matando e fazendo viver o tempo - isso porque não se mata o tempo assim tão fácil, ele é como uma sangue-suga que quanto mais se tenta arrancar de si maior a força com que ela se prende à pele, fica mais vivo nessas horas de cronohomicídio -. Ocorre-me uma intensa necessidade de reler a fala do Nelson Leirner, esfregar meus olhos, ler outra vez, e dessa vez cada letra e combinação sonora das palavras, para tentar fazer com que maior lucidez ainda me atinja, mesmo estando com sono. É quase inacreditável que o que eu tenha tentado dizer várias vezes, mas com grande auto-censura e medo, na minha insignificância, tenha sido tão claramente dito por... um artista consagrado! E o que é, afinal, um artista consagrado? Arranque-o esse título... O que sobra? Textualmente, o "artista", mas em termos reais... alguém. ninguém. Admitir-se assim é admitir uma ética que nos suplica ser vista enquanto artistas (todos nós), sem se deixar morrer na consciência. É esse o assunto: Corrupção da Consciência: sobre o qual desejo tratar. Fica para a próxima postagem. Agradeço a todos os que comentaram o post anterior ou os assuntos dele, a absolutamente todos. Felicidades e até esse fim-de-semana.

quarta-feira, novembro 27, 2002



Se me perguntas o que desejo mais avidamente nesse momento, digo: ir ver Nelson Leirner. SÃO PAULO É A CIDADE DOS SONHOS!!!
Vê uma transcrição de uma fala dele, feita em uma matéria do Obraprima.net:

"(...) Durante três ou quatro anos, começaram a acontecer muitas coisas com a minha carreira; coisas retumbantes, embora estranhas. Notei, por exemplo, que com seis meses de pintura fui premiado num salão. Com um ano de trabalho exponho na melhor galeria de São Paulo, a São Luiz, que apresentou meus desenhos sem vê-los antes. Mais seis meses e entro na Bienal; e Stanislawsky, crítico polonês de fama internacional, acrescenta ao meu trabalho uma longa crítica. Aos poucos, a gente vai percebendo a razão de tudo. A qualidade de meu trabalho não possuía a importância que lhe foi dada. Era uma pura questão de prestígio social. Tinha visão do que fazia então, e sei que era realmente ruim. Quem trabalha seis meses não pode surgir de repente e ter seu trabalho aceito. Pode mostrar apenas que tem talento. Com a consciência do que estava acontecendo, surgiram perguntas sobre critérios de julgamento e sobre a própria obra de arte. Tudo isso punha em xeque e em dúvida o valor das coisas. Compreendi que se pode construir um cara qualquer; até sem ver seu trabalho. Era natural que começasse a soltar tudo o que estava dentro de mim, logicamente num sentido de contestação. Esse foi meu começo"(São Paulo: Paço das Artes, 1994. p. 41-42).

Recomendação para leitura nesse momento caso você tenha ficado tão perplexo(a) e contente quanto eu:
Honoré de Balzac. Ilusões perdidas.

quarta-feira, novembro 20, 2002

Eu quero monitorar a exposição do Athos Bulcão, mas não me puderam nem me deixaram porque eu sou do segundo semestre. Essa verdade não implica em ignorância. Se fazem entrevista para quê serve esse critério grotesco baseado em um aspecto cronológico requisitado de maneira incompleta?

Te interrompes-me
Quando te vejo-me andando atrás das regras

Te sinto-me impróprio
Quando me dizes-te: crianças... Querem o todo
Não sabem de nada... pequenas e piegas.

domingo, novembro 17, 2002

Cheguei de Goiânia
Trazendo 2 CDs novos como minha bisavó na malinha.

A humanização do Design?
O que é uma arte genuinamente brasileira? Isso existe? Espero que sim, mesmo com todas as distorções que na prática essa expressão "genuinamente" apresente. E ainda, admitindo que a "personalidade" do Design (contemporâneo) tenha em sua formação algumas pitadas de arte e contribuição de artistas, será que é possível surgir um Design brasileiro?
Essas questões não podem ser respondidas com um nacionalismo qualquer, um amor fervoroso pela pátria. Aliás, nenhum nacionalismo pode-se dar ao luxo de posicionar-se do lado do sim ou do não. O âmago intencional dessa última pergunta é a identidade cultural - os ritos, os mitos, as ciências científicas e tradicionais, artes, cultura - dos povos que recebem a miscigenação do Design, associado ou não às ciências administrativas e ao Marketing.
Se entramos no campo do Marketing, a identidade cultural não pode ser preservada a não ser sob condição de ser derrubada. O Marketing, esse vírus comercial, muta-se e muta lentamente em função de seu axioma plano o meio em que age, tornando-o vulnerável. Sua única e final intenção não pode ser mais do que: o lucro: ainda que essa faceta que abarca toda a face pareça estar cega e reduzida a uma inofensiva verruga. Para ser sintético, abstenho-me do aprofundamento a esse respeito, já que sempre que se trata de globalização esse assunto é recorrente e muitos autores o tratam muito melhor do que um mero "estudante escritor de blogue" (sendo cruel comigo mesmo).
Por outro lado, o Design não associado ao Marketing, pelo menos em seus princípios morais (que são os de quem o faz), mesmo que sim em sua necessidade de suporte financeiro, pode ser, entre aspas, nacionalizado. Eis abaixo uma sugestão para estruturação simbólica de um "produto" que apresentei em um seminário no semestre passado:


As xícaras são de Mestre Cardoso, citam as cerâmicas, peças da arte marajoara, com símbolos próprios e enraizados na cultura regional de uma época e de um local. Convidei-me a perceber o que a realidade fala sem dizer, ela fala sobre ela mesma. A escolha da arte marajoara fala, sem dizer, que eu busquei uma análise estrutural visando responder: a arte pode dar ao Design a genuinidade nacional?
Muito provavelmente não responderei com toda amplitude essa pergunta, faltam-me conhecimentos sobre história, mas o modo como respondo atualmente já permite escolher um método de elaboração extremamente forte, mas que, como se faz no campo seqüencial e extremamente racional deve ser destruído, por esbarrar em maquiagens do mesmo tipo daquelas das maquiadoras do Marketing. Somente são grandiosos em seu "espírito" (no sentido como não o define Hegel - sarcasmo surrealista) os objetos desenhados sem o uso de qualquer método matemático não numérico (ou numérico).

quarta-feira, novembro 13, 2002

Atualmente, sintiria-me satisfeito comigo mesmo e com meu estágio de inacabamento, mas algo me atormenta, uma voz zumbe e arranha meu córtex:
- Emprego, emprego. Emprego etc.
Preciso de um emprego ou terei que me eliminar. Falta ele para que eu possa ser eu.

domingo, novembro 10, 2002

ADSL
Agora sim, acho que não vai mais dar problema na ADSL. O cara "resetou" (não sei em que sentido) a central e trocou o modem daqui de casa.

China, símbolo e sabedoria
Meu interesse começa na universidade. Um interesse mediano, corriqueiro e multiplicador de uma tradição acadêmica de reprodução de dados científicos objetivando deixar para trás... Derramar no passado dejetos da arqueologia e da estética que meu organismo não recicla, como um aluno ansioso pelas curvas virtuosas do SS. Mas bastou uma vez ter observado fotos de bisontes petrificados ou eternizados nas cavernas por sangue e outros pigmentos para que minha escola habitasse um pouco meus pés, minha animalidade. Talvez um pouco além, minhas mãos encontrariam os arquétipos do fenômeno "contemporaneidade".

E por que não ir em busca sobre a China? Seus machados de bronze e cálices ritualísticos, máscaras de duas faces que pouco se sabe sobre serem mitológicas ou não, a Idade do Jade e uma dívida da arqueologia eurocêntrica para com sua pre-história. Um mundo grandioso em pequenos espaços entorpecentes, o símbolo ciente e a arte da consciência sempre retornando ao seu início. Assim se faz o saber sobre a idéia: ideológico: ideográfico: ideograma: a escrita de filigrana: pintura zen: arte do bem:

E diante de uma enchente de conhecimentos carentes, faltando tudo sobre o Paleolítico negligenciado pela nossa sapiência, eis que eu estou no papel mostrado: a pintura e o entalhe que não são os próprios seres representados: a linguagem do mundo inanimado: o poder da substância:

Recital
Teve recital da Margarida, dia 8, na Praça do Relógio de Taguatinga. Tem outro dia 12/11 na Católica às 19h e estarei recitando outra vez um poema dela em homenagem ao Drummond. Haverá coquetel e creio que um coral também vai cantar.
No dia 8 foram poucas pessoas, mas a maioria adorou. O Presidente da Academia Taguatinguense de Letras estava lá e saudou com alegria aos participantes, assim como outras pessoas que ficaram emocionadas.

domingo, novembro 03, 2002

Meus pés, minha animalidade

Meus pés, minha animalidade,
pisam bem próximos de fundirem-se ao mundo.
Neles estão minhas memórias
meus ancestrais, espíritos gravados nas pedras.

Não são minhas mãos que os anjos alcançam
nas horas em que caminho.
Piso suave na memória que me descansa
mas sinto a preensão tardia
da mão que me quer, ora que me desmancha.

O polegar opositor invade
os monumentos das mãos tecnocratas,
espreme contra o indicador meu caminho,
desinfetado o sensível tão frágil pela chuva ácida,

antes que me esmague a traquéia
ponho-me a gritar as imagens que vejo
perdendo-se nos desconfortários arquitetônicos

e acalmo-me do delírio crônico da cidade
Com os pés reconfortados sobre a vida.

sábado, novembro 02, 2002

Sumi
A ADSL pifou.

Prêmio SESC de poesia
Não fui premiado, mas minha declamação foi um momento de êxtase em que me senti fundido à essência do universo e atingiu muito positivamente algumas pessoas. A qualidade de quase todas as poesias foi louvável, então pensei comigo que minha participação seria por si só interessante, como é mesmo para alguém que está começando na poesia, mesmo sem prêmios e medalhas. No entanto, se eu ganhasse uma menção honrosa, prêmio que seria facultativo aos jurados oferecer, estaria perfeitamente satisfeito, e isso me pareceu bastante possível. E foi quase isso que aconteceu. Posso dizer que ganhei uma quase menção honrosa: trifase esteve dividindo opiniões na banca examinadora, recebeu mais elogios das pessoas do que imaginei, mas não venceu uma outra poesia que não sei se é boa, porque não entendi sua pronúncia pela autora, inventou-se um critério que me pareceu completamente fora dos parâmetros estabelecidos pela regra de somente ser válido o texto: a poetiza tinha mais gente na torcida do que eu, que contava com minha grandiosa platéia composta por duas pessoas que eu adoro: minha mãe e minha namorada. Minha mãe pagou meu ônibus e fez durante 22 anos um grande esforço para me compreender, essa minha cabeça confusa, mas pacata; minha namorada ainda não precisou fazer esforço, mas me fez participar do concurso, me inspirou a abandonar minha timidez e levantou minha auto-estima. Mas foi justamente aquele "quase" que me agradou, já que quem mais aguerridamente defendeu a Trifase foi uma doutora em teoria literária que tem outros títulos reverenciáveis, de quem eu imaginei que jamais obteria sequer uma ponta de cêra de ouvido, mas de quem adoraria ouvir uma ou algumas opiniões, mesmo que disfóricas, sobre o conteúdo e a forma do meu pequeno texto. Pois consegui dela, sem sequer me manifestar, todo tipo de aprovação, olhando nos olhos, percebendo como ela precisava dizer o quanto aquela poesia a havia emocionado. Esqueci então os títulos daquela dama e os recursos poéticos e estilísticos que poderiam impressionar um analista literário sem sensibilidade: eu havia atingido o que pretendia e pretendo a cada dia mais: fazer as pessoas se sentirem vivas. E eu fiz isso com outros poetas, assim com já fizeram comigo também algumas vezes, inclusive nesse evento. Só isso basta: vida, sublime vida. Um livro vai ser editado com os finalistas, inclusive eu, que provavelmente terei meu nome escrito completamente errado e um erro grave de concordância no meu poema (ambos causados pela pessoa que os ditaram - ou digitaram). Dificilmente um ser normal compraria esse livro por minha causa, a não ser duas pessoas, mamãe e Dany; além do mais, com esses erros fatais, não irei indicá-lo, porque suas poesias serão maravilhosas desde que fiéis ao que o autor escreveu.

Trifase

O Sol, narciso, no fim da tarde,
apaga o dia e imprime a tábua,
enquanto foge, o movimento,
do eixo-estaca, e a Lua alarde.

Às duas fases do firmamento -
o que uma grava, outra revela -
segue a terceira no espelho d’água,
que dissimula, como aquarela.

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