feLiza ano novo
Um dia, quando na minha rua moravam meninas além das duas que aparecem para dizer oi uma vez por ano, aconteceu uma festinha de meu aniversário aqui em casa muito psicodélica. As mulheres em geral conseguem animar as pessoas quando querem, até para festas psicodélicas. Nesse dia, 14 de outubro, dançamos músicas de festa junina. As meninas fizeram uma vaquinha e compraram um CD encalhado que vinha em uma revista Caras (ou Contigo, sei lá) com músicas natalinas cantadas em português de Portugal, fazendo propaganda do óleo de cozinha Liza. Maravilha aquilo. Tirei as músicas juninas e cortei o barato do povo que tava dançando aquelas maluquices muito legais de situações sertanejas do tipo "olha a cobra!", então coloquei o CD FeLiza Ano Novo, que agüentamos ouvir até a metade. Tirei-o para não apanhar. Ninguém estava dopado, e tomávamos pouca cerveja. A lucidez foi o grande barato daquela noite e sempre é em todas as horas e todos os dias.
Muita lucidez para todos. Usem a droga do Novo como forma de expandir a percepção e o auto-conhecimento, mas não engula nem cheire o novo todo em um só dia. A embriaguez e a dormência exageradas são o avesso da sensibilidade e da hiperestesia.
Desejo para o início de 2003: que Roriz e todos os políticos, comerciantes, bicheiros, grileiros, ladrões de carga, desembargadores e profissionais que o ajudaram a crescer como ladrão ou aceitaram ser comprados sejam punidos e presos, devolvendo os milhões roubados; e Magela no GDF. Sei que é quase impossível, mas acho que pode ocorrer.
Outro desejo meu é aprender mais sobre física e mecânica.
Tudo de bom e felicidades.
terça-feira, dezembro 31, 2002
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segunda-feira, dezembro 30, 2002
Abraham Palatnik.
Palatnik!
Parece A Palavra mágica da cinética.
Palatnik!
Basta dizer com convicção.
Os objetos ganham vida própria,
No escuro, a luz ganha inteligência
e a forma de seu sentido, projeção.
Nada representa Palatnik
Ele conduz à quinta-essência
de que somente a luz é a multicor
em ação.
Nelson Leirner em Brasília
Eu já havia dito que Nelson Leirner estava em Brasília, na galeria ECCO? Não? Pois é, está. E é melhor você ir ver logo, porque não sei até quando ele vai ficar.
Mas cuidado... Muiiiito cuidado para não virar macaco. Não seja um macaco como os que não nos deixam usar Nelson Leirner: abra o zíper! Mas não faça macaquices como a minha de perguntar pra monitora se a gente pode usar as obras, porque ela vai dizer que não e vai ficar vigiando como fez comigo e com o Alex. Apesar de ela ter sido gente fina e dado as costas umas vezes para fazer de conta que não tava vendo que eu tava abrindo e fechando o zíper e apertando a Mona Lisa.
Para ninguém ficar pensando imoralidades, explico. Lúcio Fontana fazia cortes com estiletes em suas telas monocromáticas. Assim, abria o espaço, expandia o vazio. Seu argumento colou e ele ficou famoso. A partir daí, passou a repetir a experiência gestual do corte com estilete em várias telas monocromáticas, incessantemente, como que vislumbrado pelo espaço infinito que criava (ou pelo Glamour obtido a partir da idéia).
Nelson Leirner então sofistica a idéia de Fontana com um ato simples: costura diversos zípers em uma tela, que podem ser abertos ou fechados de diversas maneiras, dispensando a repetição da compra de novos materiais semelhantes para "brincar" com o estilete e possibilitando que a experiência do espaço seja vivida e desfeita. A obra é interativa, mas na galeria não pode ser tocada (que maravilha, não?).
A Mona Lisa (ou as Monas Lisas), mostra a vulgarização de um objeto de arte original que se tornou um mero objeto decorativo e muitas vezes um antiquado símbolo de "status", servido à idolatração do poder vazio das imagens fora de seu contexto original e completamente deturpadas. O mesmo ocorre com a santa ceia.
A exposição ainda vai muito além, levantando questões e ironizando a tão mal usada arte conceitual, confundida cada vez mais com o "cult" e "intelectualizado" modo afrescalhado de ser.
Postado por allan de lana às 1:28 PM
segunda-feira, dezembro 23, 2002
Chegou o recesso de fim-de-ano. Agora todos os dias parecem fins-de-semana. Talvez aí esteja um motivo para eu não ter escrito nada aqui nem ontem nem sábado.
Eu poderia ficar enchendo lingüiça aqui por muito tempo, porque não tenho nenhum compromisso nem para hoje nem para amanhã, apenas preciso terminar o presente da Dany e comprar o do meu amigo oculto de natal, embora eu odeie o papai noel, aquele balofo chato com desequilíbrio térmico. No caso do presente da Dany, agrada-me que dia 25 seja o dia dos nossos seis meses de namoro. Sim, uma metade! E prefiro comemorar uma metade do que comemorar o Espírito Natalino.
Bem... Acabei lembrando sem querer do concurso de poesias do SESC, em que Espírito Natalino foi meu irônico pseudônimo... Anteontem foi o lançamento do livro com as 25 finalistas, entre elas a Trifase. recebi 19 livros mais um. Esse "um" é o meu, que tem uma dedicatória do Nicolas Behr, o meu maior ídolo da geração mimeógrafo de 70. Me felicita e emociona muito que no livro que ele recebeu tenha também uma dedicatória minha, improvisada no momento em que ele me abordou em minha mesa pedindo a página de Trifase.
Fiquei perdido como se meu coração houvesse disparado. Meu coração havia disparado. E como havia! Porque eu ja tinha falado com o Nicolas naqueles ataques de idolatria que desconfiguram a normalidade de algumas pessoas, como eu, vez ou outra, mas jamais pensei que Ele um dia sequer abriria um livro qualquer na página...
"Trinta e quatro. Trifase.", meu pai disse em voz de temperatura ambiente.
Aí eu o desejei uma boa viagem, porque naquela noite algumas pessoas importantes da cerimônia já haviam recorrido a esse uso inadequado de viagem no lugar de leitura.
Agora devo ter uns 14 livros e vou desejar mais umas 14 boas viagens para mais umas 14 pessoas que não sei ainda quem. Não vou decidir agora. Você deve se lembrar que quando comecei a falar do livro do SESC o fiz por um desvio incidental causado pelo "Espírito Natalino". Até aquele momento, eu pretendia falar sobre meu mais novo vício, ou... Minha mania de fim-de-ano.
Porta-copos com gravuras. Fiz o primeiro jogo de porta-copos por influência da... adivinha... Dany. Ela é quem sempre diz: "Lan... por que você não põe em prática aquela sua idéia?" ou "Gostaria que você se inscrevesse em um concurso de poesias."... Dei no amigo oculto da Terèse, minha queridíssima professora de Materiais em Arte 1. A gravura escolhida foi a de um copinho feito com linhas brancas em fundo preto. Aliás, devo fazer uma correção, não foi gravura, mas pintura e monotipia misturadas. Um pouquinho só de gravura em madeira.
Agora pretendi dar continuidade à confecção de porta-copos. Um jogo vem com 7 e custa 8 Reais. Todas as "gravuras" daqui por diante serão resultados de estudos da obra de pintores e outros artistas. Hoje terminei as impressões do Magritte. Amanhã terminarei os porta-copos usando elas. O próximo será o Dalí ou o Da Vinci.
Tenho tembém pesquisado novas formas de impressão em pano e com o passar do tempo elas vão melhorar muito, sobretudo quando eu tiver uma prensinha portátil.
Postado por allan de lana às 6:59 PM 0 comentários
quarta-feira, dezembro 18, 2002
Queridos leitores!!!
De volta ao mundo.
Estava mesmo com saudades desse monitor natimorto com uma imagem de formulário de postagem mais natimorta ainda, principalmente de soprar uma vida neles por meio dos meus dedículos aracnídeos.
Nesse fim-de-semana voltarei a escrever algum texto interessante (que pra mim é interessante) aqui. No mais, só posso deixar como registro agora, uma postura que tenho que me parece exorbitantemente romântica, mas que jamais será negada por aqueles que já se despiram de preconceitos e se deixaram auto-conhecer por uma obra de arte:
A arte é a lucidez
e a viveza extrema
a embriaguez sob a qual há clara destreza
e a confusão hiperestésica das sensibilidades
corpo e percepção
dos quais só a vida é feita emblema.
Postado por allan de lana às 12:14 PM 0 comentários
domingo, dezembro 01, 2002
Introdução à Corrupção da Consciência
Não imagino o motivo de tal inversão. Não começarei esse texto delimitando o tema que já foi delimitado pelo título, nem apresentando minha tese. O fato é que ontem cheguei à conclusão de que sou analfabeto em teatro e em cinema. Isso me induziu agora a lembrar exemplos de vídeos que trabalharam diretamente ou por meio do "não-dito" (princípio que não explicarei, porque assim se tornará dito) com esse assunto. Por isso, resolvi começar pelas recomendações finais. São dois os filmes: Billy Eliot e Língua das Mariposas.
No primeiro, mais simples, direto e negativo, uma criança é levada a repudiar comunistas, induzida ao aborto de sentimentos antes que se tornassem emoção e, mais além, expressão, após e durante a qual há um processo de clarificação, de ganho em autoconhecimento e lucidez. No segundo, cujo desfecho é positivo, há uma conversão do comportamento do pai boxeador cujo filho queria ser bailarino. A superação de um preconceito ocorre no momento em que o adulto resolve "adotar" suas próprias emoções. Diz Aaron Ridley, acerca do conceito Collingwoodiano: "Uma consciência corrompida ou 'falsa', ao contrário, é uma consciência que, em razão da falha em clarificar seus pensamentos e sentimentos, recusa-se a reconhecer suas experiências como suas próprias." (2001, p.17)
Collingwood leva a problemática à arte e ao artista e desses de volta ao mundo. Para ele a arte é a cura oferecida da doença da Corrupção da Consciência e, talvez não tão hiperbolicamente como possa parecer, para a morte a qual essa doença implica - no que discorda, no entanto, Ridley.
Não obstante, o próprio Ridley atribui o que denomina exagero ao clima promovido pelo fascismo europeu dos anos 30. O que é descrito então pelo autor para traduzir os efeitos desse fascismo é assustador. Não que devamos ter medo do passado, mas, no entanto, do presente, do perigo de alguns críticos, de alguns jornalistas, jornais "da comunidade" ou "de Brasília", de consciências fracassadas ao se deixarem corromper. Elas não são mentirosas, nem tampouco enganadoras, mas simplesmente ficaram alheias à sua verdade e conhecimento devido à uma "analogia com o que pode ocorrer entre um intelecto e outro" (Collingwood, citado por Ridley, 2001, p. 18), falhando no conhecimento de si mesmas. Eis a tão trágica realidade dos anos 30 que implicou em uma epidemia dessa doença: "Não apenas na Itália, Alemanha ou Espanha, mas também na Grã-Bretanha, as pessoas estavam sendo impelidas por uma onda de 'sentimentos não-domesticados' a adotar, da boca de demagogos, pensamentos que não eram verdadeiramente seus".
Passe agora os olhos por sobre uma tal América, da qual nada aqui foi dito nem será, a não ser que é capaz de matar a quantos forem como simples, tranqüila e coriqueira publicidade. Constatará, como eu, que Collingwood estava certo?
Postado por allan de lana às 8:34 PM 0 comentários