...

Minha foto
allan de lana

sábado, agosto 30, 2003

Nem tudo sai...
Como o esperado. Entre ruídos diversos, um local pouco acolhedor e o improviso da leitura na hora: não houve empatia e não me senti muito à vontade. O recital não foi dos melhores. Mas, paciência, nem tudo é perfeito. No entanto, minha poesia lida, "Seu Quarto", ficou interessante, com fundo de Bossa Nova (o que destoou, pois aquela Bossa Nova não era nada tensa e a poesia tinha momentos de tensão). Encarnei, nela (a poesia), meu espírito de fingidor do Fernando Pessoa. Não vou publicá-la novamente, ela deve constar nos arquivos (hehe - sou malvado mesmo).

Anúncio de Macintosh G4 cinza
O Leandro, amigo-colega do meu irmão, está vendendo o dele. O preço (que dizem que é barato), é R$ 4.500.
Se você tem cinco reais, como eu, mas acha que é bom de negócio: celes@brturbo.com.

sexta-feira, agosto 29, 2003

Hoje, na Feira do Livro, na banca da Secretaria de Cultura (blé), a partir das 20h, vou estar recitando três poemas de Margarida Drumond de Assis e, na praça central do Pátio, vão estar encenando a qualquer momento um ou dois poemas meus. Não perca os dois eventos, só um deles.

domingo, agosto 24, 2003

Hoje é aniversário de Paulo Leminski. Homenagens em Curitiba, ao poeta falecido em 7 de junho de 1989, que hoje completa 59 anos de presença.
"saber é pouco
como é que a água do mar
entra dentro do coco?"

Vale a pena pelo menos sair pra brindar hoje à noite.


poesia cênica
Por falar em poesia, hoje mesmo, 24, e nos dias 26, 29, 30, 31 de agosto, às 20:30, na Arena Jovem da Feira do Livro, vão haver encenações baseadas em poemas de poetas sem fama, desses que são artistas movidos por paixão, como eu, e que ainda não são apaixonados conhecidos. Poemas meus vão entrar na roda todos os dias, além do mais, quem quiser conferir a qualidade da nova poesia brasiliense tem uma boa oportunidade. Pergunta para você: existem limites entre o Teatro, a Música, as Artes Plásticas e a Poesia, ou tudo tem poesia e arte?


de Poesia para Conto, poesia do conto
Achei em um caderno de quinta série meu um conto interessante. Eu escrevia muito mal, muito mesmo! Mas esse eu modifiquei pouquíssimo, porque a história é interessante.

conto004
O detetive Simão estava no velório. Algo dificultava que ele se colocasse no caminho. O caixão, na praça da esquina, começava a ser transportado para a sala de Virna, filha única da velha morta. Dona Severina era mulher humilde e de imobiliário bem cuidado.

Sua voz não deixava que ninguém falasse, causava irritação quando desembestava e deixava apitando os ouvidos de quem estivesse perto. Foi silenciada. Mesmo assim, todos estavam tristes e emocionados. Não choravam muito, mas o choro contido era fruto de uma dúvida: quem matou Dona Severina?

O enterro começou sem demora. Foi morte de tiro, explicava alguém a um jardineiro do cemitério. Não havia rezas ou ritos maiores quaisquer. Simão, o detetive, na sombra de uma árvore, mostrando sua seriedade e profissionalismo, conseguia fazer a cabeça de Virna, a herdeira triste de muitas pequenas contas.

Os serviços do detetive foram contratados. Após iniciar as investigações, pressionado pela contratante, ele afirmou:

- É preciso reconstituir o caso com maior precisão.

- Está demitido!

O substituto não foi conseguido com facilidade, pois tinha uma característica especial necessária: era o pior detetive da redondeza, o Sabugosa, que começou logo a fazer anotações. Não só anotou, como encontrou uma arma esfolada, um revólver de plástico. Houvera ela disparado o tiro? Estava enterrado no quintal, ao lado do quarto da Virna e tinha preso um cabelo longo, loiro e liso. O crime começava a ser desvendado.

- Sabugosa, quem matou minha mãe?

- A senhora, até agora, é a principal suspeita.

- Está demitido! Que prova você tem, engraçadinho?

Nervos reativos. O Sabugosa sacou a arma, a prova do crime, com aflição, apontando-a, em um movimento fragmentado e nervoso, engatilhada para a cabeça da moça. Uma crise de nervos a atacava e obscurecia a cena. Virna está pálida. Somente um grito chega a toda a vizinhança, um grito estridente, lembrando até a voz de Dona Severina, a morta, tencionando a todos instantaneamente:

- Alexandre! Venha cá, meu filho! Está na hora de você jantar. Ordena Otacília, mãe de Alexandre.

Alexandre larga a arma e o boneco de plástico na areia e sai correndo, sem nem se despedir das outras crianças, com medo de uma surra. Hoje ele tinha sido o detetive Sabugosa.

sábado, agosto 23, 2003

http://www.flashmobdf.blogger.com.br/
Olá, leitores! Como é bom saudá-los. Às vezes esse Blog é tão útil à minha organização, que começo a dialogar com ele mesmo, como se dialogasse comigo internamente, assim, faltam referências fáticas e expressões dirigidas aos meus amigos que lêem isso aqui. Então, saravá a todos!

O I Flashmob ocorreu ontem, em frente ao Pátio Brasil. Quem quiser saber mais vá ao blogue do título, pré-requisito para conversar acerca do evento, pois eu mesmo explicando não conseguiria ser entendido de maneira tão abrangente quanto uma visita pessoal. O evento, segundo nos conta seu organizador, reuniu mais de 300 pessoas, grande parte delas desconhecida do restante do grupo, que, por meio da comunicação via Internet marcaram um modo de encontro e um horário. Chegando lá, no Shopping, os participantes do happening começaram a se aglomerar e, dadas as 13h, iniciaram, com papéis que carregavam, a fazer tubos e olhar para o céu, como se olhassem para estrelas.

No blog do evento, alguns comentários descontentes e ásperos condenaram o evento, o que fez com que o seu iniciador e incitador também tomasse uma postura defensiva agressiva e se desviasse do propósito original. Dois comentários são interessantes, embora, de fato, não levantem questões muito específicas, mas que deveriam estar sempre implícitas em toda qualquer discussão sobre arte. O primeiro comentário, que chegou em forma de agressão, foi sobre a inutilidade da arte e, por extensão, de seus apreciadores (no caso desse evento, os apreciadores e fruidores são também os participantes), o que envolveu uma série de pré-conceitos sobre estes. O rapaz que fez as críticas propôs que todos deveriam estar trabalhando e contribuíndo para o andamento econômico de suas vidas e para a ordem burocrática da sociedade. A outra questão versou que o evento em questão, para que fosse realmente eficaz, deveria contribuir para acabar com a fome em nosso país, contribuíndo, por exemplo, com o Fome Zero.

Essas são duas questões essencias que precisam estar na base de toda atividade nos dias de hoje, não só da arte. Se elas têm equívocos no que sugerem, é uma outra história, pois esses equívocos precisam ser solucionados. Mas, objetivando melhor ambos os entraves, é plausível propor o seguinte: o que é utilidade e o que é que confere valor? Esse valor implica que tipo de dívida? Que valor, em que sentido, alimenta a atividade que exerço? Como é possível contribuir para RESOLVER as desigualdades sociais? A atividade que exerço contribui para o bem-estar meu e do outro de que maneira?

Sob essa ótica é possível manter o diálogo entre a ação de arte proposta no Flashmob e as espectativas do público do público, assim, duplicado, em uma segunda instância mesmo, pois o público primeiro é aquele que esteve presente, o segundo público é o que transforma o primeiro em objeto e o critica, o analisa e tenta compreendê-lo para se compreender melhor e melhorar o que há à sua volta.


Sei que vou morrer, não sei o dia. Levarei saudade da Maria

Allan de Lana Frutuoso
Falecimento: 27 de Junho de 2028 (aos 47 anos), executado por acusação, por engano, de assassinato em primeiro grau de um "tendero" (não sei o que é isso ao certo. Cigano?) e de sua cliente. Na época vigorarão leis de pena de morte.
Foi quase o que eu pretendia, só que imaginava que seria assassinado de outra maneira, não pela lei de pena de morte, mas por um assassino mesmo, e aos 57 anos seria o ideal, não aos 47... Mas, fazer o quê, nessa vida dá tudo errado mesmo, nem a morte respeita mais o cidadão.

Quando morrerás?
http://www.estasmuerto.com/


Conto002

Correntes ao invés de redes. Redes de sons e imagens: correntes que fazem a âncora sensível de cada um. Todos se transpassam no cosmos urbano e se amarram, mas são amarrados todos pela massa.

O gato morto no asfalto, amarrado nas correntes da indústria automobilística. Não há quem diga ao certo se ele tinha alguma autonomia. O ônibus que o estraçalhou sempre determinou seu comportamento, temperado por todo o trânsito enlatado.

Tanto concreto comercial entre as casas de Seu Chico e a de Dona Margarida os confunde quanto a sua vizinhança de 150 metros, de modo que se a casa de um for invadida, vão demorar horas ou dias até que o outro fique sabendo. Eles são grandes amigos. Vistas acorrentadas.

Quando o Seu Chico foi ontem ver a Dona Margarida, passou pelo gato morto no asfalto. O céu estava cinza. Havia mosquitos e vermes brancos em plena rua. A matéria morta seguia seu curso com toda dificuldade e piche no caminho. O ciclo do Nitrogênio acontecia às descobertas. O corpo dormente caminhava: adormecido pela mistura chamuscada onde nenhum ingrediente sonoro, tátil, gustativo ou visual é uno. Nem, sequer, o cheiro, que mistura pneu, gás carbônico, carniça, bolo de fubá, bafo e outros ingredientes, é dissociável de sensações do ouvir. Alguém que visse de outra esfera confundiria ainda o Seu Chico com o gato morto.

Dois finais são possíveis à caminhada do Seu Chico.

1) No meio do caminho, pensando no absurdo episódio do Muro de Berlim, deu de cara com uma guarita e uma grade. Se quiser passar, tem que pagar pedágio, disse o guarda carregando um cacete.

2) Você decide.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Andy Warhol e Keith Haring em Brasília
Abriu ontem na cidade a exposição de dois dos artistas mais importantes da Pop Art: Warhol e Haring. O primeiro, com polaróides de celebridades, afirmou que no futuro todos teriam cinco minutos de fama e refletiu em sua obra a repetição e a reprodução em série da indústria na era do capitalismo pós-industrial; o segundo tem como inspiração primordial a arte do graffitti e o vocabulário de símbolos presentes no imaginário popular, sua ação se dá em meios urbanos.

Eu vou.


009
Quem com o outro se completa,
de tanto amar fica corcunda.

terça-feira, agosto 19, 2003

Apagaram todas as minhas imagens armazenadas. Me lasquei, então troquei o Passo do Pato, que tava ali na direita acima, pelo desinterrupção, que é um quadro que mora com a Girlaine, uma prima minha.


Escritos em forma de água espiralada descendo a parede do lavabo

Cachorro mijando no poste.

Filtro enchendo copo.
Água derramada na garganta.
Cachoeira.
Cai na pia.
Sinfonia
do cano do ralo da pia.

Cachorro mijou no poste.

sábado, agosto 16, 2003

Muito bem, eu havia anunciado o fim da Foto Arte 2003, mas nada acabou, continuam havendo algumas exposições, só que agora são poucas, logo visitáveis, o que já não se inclui na lógica da fase mais drástica do evento. Nesse sentido, foi um fim.

A volta
Não me lembro. Alguém um dia disse, quando eu ainda nem era nascido... não me lembro quem foi mesmo, que quando tentamos ir contra um fluxo já instituído da cultura, nos ralamos, adoecemos, somatizamos, mais precisamente somatizamos. Minha opinião, necessária, pois não conheço essa teoria a fundo e terei de dar uma interpretação pessoal desse enunciado, é que quando nos comportamos de maneira que não é comum no comportamento do meio, na cultura, manifestamos algo estranho que é identificado com a patologia, nos tornamos uma espécie de verme malígno (as normas, oras, também são para nós, os diferentes, nesse caso, um sintoma crônico e consuntivo). Em outras palavras, a estranheza é identificada com a instabilidade. Ao buscar mecanismos de regulação, a sociedade tenta eliminar justamente as instabilidades. A vacina pode ser a discriminação ou algum obstáculo inconsciente ao crescimento e proliferação do novo e de seu portador. Da inpotência do novo surge o cansaço e a doença do sujeito, da mente para o corpo.

Quando viajei para a Chapada dos Veadeiros, pensei nessa relação impossível da totalidade do indivíduo com a totalidade da cultura, nessa impossibilidade da totalidade do sujeito, que nasce entre o indivíduo e a sociedade. Foi uma viagem antecipada pelo adiamento da matrícula devido à greve dos servidores, que é um sintoma e uma fuga de adoecimento. A viagem, por outro lado, evitou que o mesmo sintoma me abatesse, mas, estranhamente, constutuiu, por ter sido antecipada, outro sintoma: do sintoma: que não se manifestou, a não ser como cura, ou antídoto. É uma tautologia sem saída e sem início, sem rumo também, uma ilusão de círculo, mas que só pode ser adequada à espiral. Uma completa ausência de referenciais que pode ser uma espécie de loucura. É a isso a que se submete um estudante qualquer, até mesmo de faculdade, e tanto quanto o de uma Universidade pública: desarraigamento, doença física, tensão psicológica e loucura.

Quando eu me formar, se isso acontecer, significará que estarei apto a suportar, então, três tipos de descaso e tortura: cultural, física e psicológica. Jamais serei um artista plástico ou um professor, mas um torturado e torturador. Por enquanto só vejo saídas para amenizar esse fado, mas eliminá-lo não depende de mim, foge do meu porte e, amenizar, sabemos, é ao mesmo tempo prolongar, é ser instável e sofredor. Eu me pergunto: onde está o paraíso? Onde está a felicidade sem que o sofrimento a acompanhe?

sexta-feira, agosto 01, 2003

Acabou a FotoArte 2003
Programas artístico-culturais em Brasília têm sido cada vez mais freqüêntes. Não se tem ainda, por exemplo, uma grande homenagem ao Buñuel, que completou seus 20 anos morto, como a que o Centro Cultural de São Paulo está aprontando e que vai até o dia 10.

Mas, com a promessa do CCBB de trazer Andy Wahrol e Keith Haring de Sampa para cá e, depois de tudo o que já foi realizado por nossos marketeiros culturais da Caixa, Banco do Brasil e Itaú, nota-se que Brasília está, há tempos, entrando nos circuitos da arte institucionalizada, pelo menos isso.

Agora, com a iniciativa dos organizadores da FotoArte, difícil foi reclamar da falta de galerias, lazer e trabalho para os olhos. Invadindo todos os espaços institucionais, do Casa Park à CAL, passando por grandes instituições financeiras, o evento serviu para percebermos que há bons curadores e muitas possibilidades de espaços culturais na cidade.

Por outro lado, vemos tristemente que muitos dos bons e promissores espaços sobrevivem da paixão, que consome em favor da morte própria e da falência, o que ocorreu há poucos mêses com a Arte Futura. A arte se torna notória em nossa cidade porque ela pode ser a forma melhor de sonegação de impostos, amparada por lei, forma pela qual certas instituições, de telefonia, por exemplo, podem escolher espetáculos com os quais vão lucrar, de grandes ídolos feitos pela indústria da cultura de massa, transformados nos deuses e a verdadeira fé do nosso povo. Por isso faliu a Arte Futura, porque pretendia fomentar projetos despreocupados com a criação do povo como se fosse um gado obediente e comedor de uma certa ração.

Essa falta de produção verdadeira, o pouco lucro em mostrar conhecimento e dar acesso a fenômenos essenciais de formação do sujeito, foi uma das cartas pouco válidas para o envento em questão, a FotoArte 2003, embora o lucro certo, pensado estrategicamente, e a imagem institucional estejam sempre puxando a carroça. Mesmo nossa Excelentíssima Secretaria de Cultura, que se move sempre para a reeleição do governador que estiver eleito e que, atualmente conta com um funcionário que põe o pé na mesa e cospe fumaça na cara de artistas novos, o Magela, recebeu em seus espaços a alta qualidade do trabalho de curadores como a Professora Grace Freitas, no MAB, e de artistas como o Rafael Assef, no Espaço Cultural Renato Russo.

Tivemos motivos para grandes emoções. O Centro Cultural Brasil-Espanha abrigou exposição de Marcelo Buainain, um verdadeiro poeta-viajante, cujo trabalho fotográfico tem a grandeza do espírito do fotografado e a dimensão Cezanneana do sujeito no mundo, em que no "um" é incluso, refletido, o todo, exposição na qual eu mesmo não consegui chegar a tempo. Ela fechou horas antes da minha chegada, informou a secretária.

A cada dia o eixo da arte se fortifica em Brasília. Na contramão da arte mais avançada feita hoje em dia, que faz questão de ir para fora dos centros de retenção do capital privado e chegar também ao barraco, sem esquecer-se da mansão, apagando a lógica do falo ereto no meio da esplanada, Brasília - o primeiro projeto a usar a arte de forma literalmente Concreta, a ser vivida por seus personagens, ao mesmo tempo seu público - ameaça crescer culturalmente. Para que lado já vai ela, para o do projeto utópico do grande Lúcio ou o do projeto centralizador do grande Lúcio?

Arquivo do blog