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allan de lana

domingo, março 28, 2004

repulsa ao sexo em uma introdução para dissertações de vestibular
Carol entrou no escuro. Do salão de beleza foi pra casa, fechou as cortinas, apagou as luzes. Esse é o aspecto alegórico de interiorização anômica visto em Repulsa ao Sexo, filme sobre o conflito pessoal de Carol diante da sexualidade e das suas relações familiares. Círculos de freqüência masculina, o bar, e feminina, o salão de beleza, constituem partes do drama da personagem. Assim, de limites do discurso social e familiar, vai-se a limitações do indivíduo.
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começo feliz
Cinco pessoas no primeiro encontro do novíssimo grupo de estudo de fotografia mostraram grande diversidade de intenções como fator preponderante. A qualidade marcada por cada participante dispensa a inflação exarcebada de pessoas, o que não impede a quantidade de adeptos estar aumentando pouco a pouco. Novos pensadores se apresentarão dentro de cerca de uma semana, quando todos proporão plano de ação individual para os próximos meses. Além dessa atividade pessoal, proposta de aprendizado e investigação conjuntos deverá ocorrer.
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Sobre a surrupiação: o que aconteceu de espantoso na semana passada.
O que é um oceano visguento? Aquele do qual não se vê o fundo, mas do fundo vem o que nos olha e novamente afunda. Assim, do fundo novamente surge algo mais de desconhecido que também nos olha. É assim a maré de que nos fala Didi-huberman, a que se dá ao conhecer do mundo; conhecimento que só percebe na medida em que todo o mais se oculta. Esse mundo se assemelha ao maior de todos os mistérios, que é o túmulo, sobre o qual pensar, em seu sentido simbólico e espiritual, levará sempre novamente à coisa-no-mundo, ao ser-no-mundo de Heidegger. Então o mistério que produz a sensação tanto do conhecer quanto do não saber, forma um sentido de existência, de presença de si no mundo.

Se o sentido daquele que olha é aquilo que é visto, então, o que acontece quando é surrupiado aquilo que se vê e que nos olha? O que ocorre quando algo ou, sobretudo alguém que nos agrada conhecer (logo, desconhecer) desaparece misteriosamente sem deixar rastro? Resposta (nunca) em breve.

domingo, março 21, 2004

Hoje não tenho assunto, mesmo passada uma semana do último post. O motivo é o grande espanto que nesse momento procuro rechaçar e que está presente em todos os meus pensamentos, absolutamente irrefutável. Sim, porque me faz debelar com minhas crendices e ao mesmo tempo torna literais muitas metáforas e algumas hipóteses que sustentam teorias impressionantes.

Como é difícil encarar certos acontecimentos que mais parecem mitologias, deixarei uma pista novamente metafórica dessa angústia. Imagino, ao mesmo tempo, o quanto já deixou de ser dito para ser proposto assim, alegoricamente e esvaziado... Seguirei, entretanto, nesse rumo mais ameno.

A hipótese é: às 16h você está diante de uma paisagem que o agrada. Num momento em que ainda está em contemplação, certa brisa forte incomoda seus olhos. Então, você pisca, tampando a fronte com as palmas das mãos, franzindo o cenho e enclinando para baixo o rosto, como proteção. Logo cessa a brisa mais forte e você retoma sua posição de contemplar. Mas, para sua surpresa, não encontra mais a paisagem que antes via. Está no mesmo lugar, sentindo a mesma brisa, mas em lugar da paisagem há um recorte fulcral e somente negrume, como se uma tesoura houvesse destacado desde o céu até certa altura da vegetação e uma varinha de condão tivesse sumido com esse pedaço recortado. Você gela, tenta acordar, mas não é sonho, seu coração dispara; quanto mais tenta entender, maior o incômodo. E agora?
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Incomodado e vivo
Mas muita coisa ainda existe e coisas boas continuam acontecendo. Por isso, anuncio, o primeiro encontro do grupo de estudo de fotografia será amanhã, às 19:30h, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. É um encontro bom e importante. Você aí, que gosta de pensamento e de fotografia, está convidada(o).

domingo, março 14, 2004

ponto refinal
Ah, o que dizer nessa hora que passa sem que ninguém descubra o que quer que seja? Passou... Acabou... Morreu... Mas aí tudo continua. Altares vão sendo erguidos para adoração de imagens cada vez mais vazias, mais invisíveis, a ponto de os adoradores pensarem que não adoram nada. Às escuras, toda fé aumenta a cada dia e adora ilimitadamente.

Amanhã vamos à Universidade. Em busca vaga por um ponto ínfimo, aquela questão que incomoda, será acrescentado mais um pedaço de merda ao altar imaginário. O pior é que "a pergunta que não quer calar" sequer existe. Os objetos desses pensamentos que buscam isenção e querem VERDADE são pura impotência travestida.

E eu estarei lá, com todo o meu ceticismo e sem esperanças na tal Universidade pública e de qualidade. Todos procurando aquela palavra, aquela COISA, aquela resposta. E o semestre vai passar sem que ninguém descubra nada. Isso é uma angústia, principalmente porque sou assim também, o tempo todo em busca, e posso dizer que é um incômodo. Preferível seria o Jardim do Éden com a Eva de perna aberta...

Dormir nas férias estava tão bom...
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Parabéns à poesia pelo seu dia!!!

domingo, março 07, 2004

fotografando a Arte 1,99
Quem não foi ainda à exposição Arte 1,99 na galeria da UnB (406 Norte) precisa ir logo, caso não queira perder. Ela fica aberta de 13 a 19h, de terça a sábado. Acredito que não conseguirá manter-se até a quarta-feira, porque estão comprando tudo. Achei bastante surpreendente a elaboração que a Patrícia Bagniewski conseguiu nesse trabalho e pude notar que algumas questões interessantes para mim estão lá nela também. Adquiri um livrinho fofinho com uma tesoura, contendo instruções de ler o livro fofinho e picotá-lo com a mini-tesoura colegial. Isso, apesar de conter uma idéia de infantilidade nos objetos, me conduz diretamente ao pensamento do personagem de Dostoiévski em "Memórias do Subsolo" reconhecendo com um certo deboche o prazer que se tem em sofrer. E ele mesmo sofria, e sofria porque nisso tinha prazer. Mas, diferente daqueles que gemem quando estão doentes, não pretendia esconder sua vontade de dor sublimada no gemido. Não entrarei em pormenores psicanalíticos. Basta notarmos apartir de um semelhante - o personagem citado, auto-denominado um rato - essa vontade de auto-flagelar-se ou buscar o cáustico como fórmula do prazer. Isso basta, pois "a mente perspicaz é uma doença" (como seria entrar em pormenores psicanalíticos), visto que nos leva à negação desse princípio em função de um distanciamento da matéria e do sentir para instaurar-se a palavra no lugar da coisa. E vendo naquela inocência infantil dos materiais a minha própria incapacidade de ser mais do que uma criança, ou seja, de não poder sentir mais do que ninguém aquilo que se põe no meu caminho e que resolvo notar à minha maneira, me figuro imediatamente no livro. Tenho vontade, então, de picotá-lo até mesmo com a tesoura cega!!! Mas não abrirei sequer a embalagem.

É essa a dor inteira de uma obra de arte ou de uma fotografia e, além do mais, no caso dessa, um sentimento de que jamais algo fotografado será recuperado, mas justamente por parecer que sim, que de todas as maneiras o fotografado está ali impresso. Isso não passa de baixeza e enganação.

Comecei nesse assunto agora para falar do grupo de estudo de fotografia. Ele começou a ser divulgado ontem, amanhã será mais um pouco, e até a quinta-feira devo publicar no grafias o projeto completo para aqueles que aderirem ao grupo.

Bom domingo e ótima semana pra vocês. Não esqueçam de ir à "Arte 1,99".

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