...

Minha foto
allan de lana

quinta-feira, julho 29, 2004

O quê que esse blogue tem
122 posts, esse é o centésimo vigésimo terceiro.  Número razoável, pois aqui não se preza por quantidade, nem por qualidade. Toda qualidade deve ser atestada por um agente, por uma entidade externa. No caso do eau de parfum não existe essa entidade, apenas conflitos (ou mesmo afinidades) com meus leitores. A irreconciliação comigo mesmo precede a assistência, de maneira que esse fator é mais preponderante ainda do que ser lido, porque uma das intenções maiores do artista é ser o seu próprio público. Nesse aspecto eu assemelho-me-o.

Leite em pó
Por uma lata de leite em pó (na faixa de R$ 5,60) se assiste a uma sessão de filmes não-narrativos. São curtas e médias metragens produzidos dentro, em afluentes ou desmembramentos do Surrealismo e da vídeo-arte. Filmes que despertam a fúria de pequenos cineastas direto da Disneylândia para a Universidade (coisas muito semelhantes, só que na Universidade o teto do trem-fantasma tem rachaduras e despenca de verdade), mas de linguagens tão distintas das tradicionais produções comerciais ou narrativas que seria difícil julgar uma diante do tribunal da outra.

Hoje assisti ao "Water and Power" (1989), de Pat O'Neill. Para amanhã a programação prevê vários curtas, três de Man Ray, um de Duchamp, outro de Fernand Léger. Os nomes provavelmente são conhecidos de muitos, tratam-se de artistas multimídia que tiveram grande repercussão internacional dentro das artes plásticas. Os ingressos são retirados na recepção do Conjunto Cultural da CAIXA e quem quiszer ir comigo amanhã tem o meu leite em pó: uma entrada grátis!!! Imperdível! Tudo bem, reconheço que por esses dias estou meio mão aberta. Mas o que é que tem? A doação é para o Fome Zero.

Já que esse evento faz parte do Foto-Arte, tomo a liberdade de convidar a todos para a exposição de Lartigue ("Moi et les autres"). O fotógrafo é formado pela inspiração e pela técnica. Há tempos eu evitei mencionar essa tal "inspiração", mas devo reconhecer que algo ronda outros sistemas menos rígidos, severos e destrutivos do que o meu próprio pensamento. Sua atividade com a câmara começou aos seis anos de idade, junto com um diário sobre sua relação com a família e amigos. Sua versão de álbum de família é registro, não fetiche, o registro da dialética e da interação entre aparelho e ser humano e também da expiral do tempo a voltar-se sobre si em desencontro.

Convido-os também para a exposição do Grupo 01, na CAL, em que Ruth nossa amiga está expondo, e para "Muros Invisíveis", da Neila, outra nossa amiga, no Espaço Cultural Renato Russo (508 sul). Não pretendo passar por companheiro promíscuo para com minhas colegas primogênitas, mas ainda não as visitei. Admiro, entretanto, ambas, a Ruth por entregar-se à experiência insólita, mórbida e procesual da técnica, a Neila por fazer uso do incômodo de uma linguagem muito pessoal e que manipula uma estética abandonada pela vontade de ver gordurosamente que paira em toda a sociedade: a excelência de sua composição e nitidez fotográficas são qualidades justamente no apagamento posterior que sofrem, no embaralhamento de imagens e na impressão desbotada (espero que a instalação esteja tão boa quanto as impressões).

Até  esse fim-de-semana.

sábado, julho 17, 2004

Sexo: muito diferente de quatro dê
Vão-me desculpar aqueles que desejam saber o dia do término da exposição "O Pornógrafo", eu não sei, mas antes fingir ser uma celebridade da e-pornografia a emprestar sua cara ao Mikey. Aquilo, sexo como interação virtual impressa e temporalizada, você pode experimentar, por enquanto, na galeria da UnB.

Esse é o tipo de encontro entre realidades que não se realiza na pretensão sapientista de uns ditos "pesquisadores". No CCBB, lá onde uma quarta dimesão tem sido referida para disfarçar deficiências nas ilusões bidimensionais miméticas de um 3D obsoleto, conceitos dos mais ecléticos se debelam para justificar atos viris demais. Trata-se da exposição "maior ou igual a 4D". Nada de errado em performances de corpos informáticos ou em uma projeção de serpente em morrinhos de areia. Aliás, é até muito competente quem viaja pelo Brasil levando a casa nas costas, como a tartaruga e, com isso, desenvolve teses maravilhosas. Mas acreditar-se pesquisador de ponta, ou de vanguarda, expor uma velharia que foi abandonada pela Atari, Sega e Nintendo ainda na década de minha (sua e nossa) infância e ainda frisar sua grande habilidade em ser artista multimídia e avançado é incoerente. 

Um dos nossos paridores nesse momento em que os títulos e as imagens de enunciados demasiadamente explicativos tentam tomar o lugar da competência prática e empírica deveria ser o Eco, o Umberto Eco. Ao falar do tempo do conteúdo, diz que o enunciado é típico da "expressão" (que põe assim, entre aspas) física da obra de arte. Nela há vários tempos, um deles é o de recomposição, que está explícito em um quebra-cabeças da mostra "O Pornógrafo" de autoria do João, nosso amigo (o brinquedo recompõe ao ser montado). O tempo do enunciado possibilita o aparecimento de um outro, o da enunciação, que é o da coisa representada ou, pode-se conceber, da coisa (re)assimilada. O que temos, entretanto, em uma das galerias do CCBB é o total despautério entre enunciado, enunciação e interação. O artista prepotente (quero dizer, "pesquisador") é tão capaz e superior que realiza a façanha de o discurso sobre a coisa existir antes dela (no que não há problema, mas) sem sequer implicar em sua origem, em sua construção factual ou manter qualquer ponto de contato com ela.
 
O que vemos são enunciações falseadas e sem lastro esnobando volúpia e um brilho ofuscante cheio de opacidade discursiva atravessadas como espadas no olhar entre o visitante e os enunciados da obra em suas características assimiláveis. Sinceramente, os pênis de chocolate da meg são mais apetitosos do que essa vontade portentosa e oca.
 
P.s.: Meus professores (inclusive os meus amigos), eu vos adoro, vocês são grandes pesquisadores, mas esse seu recalcamento elitista não se pode suportar. Espero que vocês não formem pesquisadores dessa elite postiça.

sábado, julho 10, 2004

Ah, enfim, as idéias assentam-se... As férias chegam lentamente e eu te amo, desiludida comigo! Reconheço, deprimo até os pombos, os gatos, as formigas, os móveis, mas meu peso, na verdade é 57: de tanto trabalhar parado engordei um quilo.

Viva nós, os ofendidos que usam roupas brancas!

028

Como são doces esses pensamentos
Como são feitos de cana
E vapores de alambique

Vendo assentarem-se logo em frente
Faço calarem em minha mente
Lente que não demonstra todas as verdades

Quem os lê embriaga-se porulento -
Transpiração diáfana
Decantada desse chão de vaidades

Estamos acima de qualquer sujeira
Límpidos, isentos
Enganados.

quinta-feira, julho 08, 2004

Se você está elaborando mentalmente algum tipo de pergunta sobre meu paradeiro, não se preocupe, ainda estou vivo.

1) Tem um virus chato no meu computador e dois anti-virus pesados e ineficientes atrapalhando que eu navegue pela Internet. A solução é formatar o HD e instalar tudo o que for útil outra vez, mas cadê meu tempo e minha organização? Alguém os viu por aí?

2) Puta que pariu! Merda! Quem inventou a droga da caricatura? Eu detesto essa porcaria bonitinha apelativa sentimentalista. Eu defeco pra essa merda toda humanizadinha cheia de personagenzinhos. Ai, que bosta! (Se eu desabafasse isso com alguém ia causar um certo espanto, então optei por não dizer, mas escrever no blog, porque é uma merda gente sorumbática me olhando - pelo menos hoje).

sábado, julho 03, 2004

Porque não tomamos uma bebida mais forte agora?

Afinal, somos só uns cinco leitores contando comigo, e escrevo até mesmo para quem poderia ser meu vizinho, daqui de Brasília, que a conhece tanto quanto me perco no plano x/y e fora dele. Mais umas visitas esporádicas de São Paulo, um ou outro colega dali da UnB, alguns sujeitos bem peculiares e com quem compartilho de umas e outras simpatias, a namorada com dois anos de companhia e...

Ah, sim, é espantosa a companhia: do que nós gostamos é dessa morbidez solitária e estabilizada, uma duplinha perfeita, mas talvez seja para poder quebrá-la-quebrá-la-quebrá-la-...: destruição contínua. Mas é só hipótese, e quem não concorda com essa forma de matar a si e a outros junto não pode fazer o que faço. Nem namorar e ser fiel, nem trabalhar em atividades técnicas e repetitivas, nem estudar em uma Universidade, nem tentar ser chato, incoveniente ou sóbrio demais. Não pode também confessar essas coisas em um blog, porque isso pode comprometer certos propósitos, pode deixar transparecer certo sadismo em asfixiar o mundo consigo.

Quem, afinal, não gosta de deixar uma fumaça arder laringes, fagócitos, narinas e entupir vasculares? Quem não experimentou um dia, silenciosamente, o torpor da morte anestesiando a carnalidade das coisas reais? É uma força maníaca e psicótica que nos coage na intimidade. Esse é o sadismo de apresentar o vazio incômodo presente nos heróis ansiosos e permitir um pouco de nojo por quem não entende o que vê ou, como um professor que olha um quadro, entende tanto que acaba achando ser inverdade. Não pode haver no sarcasmo tanta clareza técnica.

Enfim, senhores, de volta às férias pela UnB, após o auge do meu treinamento excentricista, um semestre de dedicação em ser chato, sou novamente quem sou, esse tímido-introvertido. Alguma coisa, entretanto, uma fagulha, mudou a pólvora comprimida na visão-vista. Haja falsidade nesse teatro, mas adoro todos de amor profundo e verdadeiro.

Arquivo do blog