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allan de lana

sábado, agosto 23, 2003

http://www.flashmobdf.blogger.com.br/
Olá, leitores! Como é bom saudá-los. Às vezes esse Blog é tão útil à minha organização, que começo a dialogar com ele mesmo, como se dialogasse comigo internamente, assim, faltam referências fáticas e expressões dirigidas aos meus amigos que lêem isso aqui. Então, saravá a todos!

O I Flashmob ocorreu ontem, em frente ao Pátio Brasil. Quem quiser saber mais vá ao blogue do título, pré-requisito para conversar acerca do evento, pois eu mesmo explicando não conseguiria ser entendido de maneira tão abrangente quanto uma visita pessoal. O evento, segundo nos conta seu organizador, reuniu mais de 300 pessoas, grande parte delas desconhecida do restante do grupo, que, por meio da comunicação via Internet marcaram um modo de encontro e um horário. Chegando lá, no Shopping, os participantes do happening começaram a se aglomerar e, dadas as 13h, iniciaram, com papéis que carregavam, a fazer tubos e olhar para o céu, como se olhassem para estrelas.

No blog do evento, alguns comentários descontentes e ásperos condenaram o evento, o que fez com que o seu iniciador e incitador também tomasse uma postura defensiva agressiva e se desviasse do propósito original. Dois comentários são interessantes, embora, de fato, não levantem questões muito específicas, mas que deveriam estar sempre implícitas em toda qualquer discussão sobre arte. O primeiro comentário, que chegou em forma de agressão, foi sobre a inutilidade da arte e, por extensão, de seus apreciadores (no caso desse evento, os apreciadores e fruidores são também os participantes), o que envolveu uma série de pré-conceitos sobre estes. O rapaz que fez as críticas propôs que todos deveriam estar trabalhando e contribuíndo para o andamento econômico de suas vidas e para a ordem burocrática da sociedade. A outra questão versou que o evento em questão, para que fosse realmente eficaz, deveria contribuir para acabar com a fome em nosso país, contribuíndo, por exemplo, com o Fome Zero.

Essas são duas questões essencias que precisam estar na base de toda atividade nos dias de hoje, não só da arte. Se elas têm equívocos no que sugerem, é uma outra história, pois esses equívocos precisam ser solucionados. Mas, objetivando melhor ambos os entraves, é plausível propor o seguinte: o que é utilidade e o que é que confere valor? Esse valor implica que tipo de dívida? Que valor, em que sentido, alimenta a atividade que exerço? Como é possível contribuir para RESOLVER as desigualdades sociais? A atividade que exerço contribui para o bem-estar meu e do outro de que maneira?

Sob essa ótica é possível manter o diálogo entre a ação de arte proposta no Flashmob e as espectativas do público do público, assim, duplicado, em uma segunda instância mesmo, pois o público primeiro é aquele que esteve presente, o segundo público é o que transforma o primeiro em objeto e o critica, o analisa e tenta compreendê-lo para se compreender melhor e melhorar o que há à sua volta.


Sei que vou morrer, não sei o dia. Levarei saudade da Maria

Allan de Lana Frutuoso
Falecimento: 27 de Junho de 2028 (aos 47 anos), executado por acusação, por engano, de assassinato em primeiro grau de um "tendero" (não sei o que é isso ao certo. Cigano?) e de sua cliente. Na época vigorarão leis de pena de morte.
Foi quase o que eu pretendia, só que imaginava que seria assassinado de outra maneira, não pela lei de pena de morte, mas por um assassino mesmo, e aos 57 anos seria o ideal, não aos 47... Mas, fazer o quê, nessa vida dá tudo errado mesmo, nem a morte respeita mais o cidadão.

Quando morrerás?
http://www.estasmuerto.com/


Conto002

Correntes ao invés de redes. Redes de sons e imagens: correntes que fazem a âncora sensível de cada um. Todos se transpassam no cosmos urbano e se amarram, mas são amarrados todos pela massa.

O gato morto no asfalto, amarrado nas correntes da indústria automobilística. Não há quem diga ao certo se ele tinha alguma autonomia. O ônibus que o estraçalhou sempre determinou seu comportamento, temperado por todo o trânsito enlatado.

Tanto concreto comercial entre as casas de Seu Chico e a de Dona Margarida os confunde quanto a sua vizinhança de 150 metros, de modo que se a casa de um for invadida, vão demorar horas ou dias até que o outro fique sabendo. Eles são grandes amigos. Vistas acorrentadas.

Quando o Seu Chico foi ontem ver a Dona Margarida, passou pelo gato morto no asfalto. O céu estava cinza. Havia mosquitos e vermes brancos em plena rua. A matéria morta seguia seu curso com toda dificuldade e piche no caminho. O ciclo do Nitrogênio acontecia às descobertas. O corpo dormente caminhava: adormecido pela mistura chamuscada onde nenhum ingrediente sonoro, tátil, gustativo ou visual é uno. Nem, sequer, o cheiro, que mistura pneu, gás carbônico, carniça, bolo de fubá, bafo e outros ingredientes, é dissociável de sensações do ouvir. Alguém que visse de outra esfera confundiria ainda o Seu Chico com o gato morto.

Dois finais são possíveis à caminhada do Seu Chico.

1) No meio do caminho, pensando no absurdo episódio do Muro de Berlim, deu de cara com uma guarita e uma grade. Se quiser passar, tem que pagar pedágio, disse o guarda carregando um cacete.

2) Você decide.

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