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allan de lana

sábado, abril 17, 2004

A surrupiação
UnB - segunda-feira, 12 de abri de 2004: a história do Centro Acadêmico de Artes Plásticas da Universidade de Brasília foi queimada após seu armário ser arrombado e Departamento ter dado baixa no móvel. Não se identificou ainda o autor da surrupiação. Nem todos a rondar a área são confiáveis e o próprio VIS (Departamento de Artes Visuais) esteve, durante a semana, levando para o depósito móveis sem dono que ocupavam o antigo espaço do Centro Acadêmico.

O armário contendo toda documentação do CAPLAS, incluindo atas das reuniões e registros diversos desde sua fundação, ocupava espaço provisório, definido em votação do colegiado e intercalado com aulas. Lá mesmo se perdeu o maior e mais relevante patrimônio representativo da participação política organizada dos Estudantes de Artes Plásticas. O evento marca o cume de uma série de golpes sofridos contra a reestruturação de base tentada desde o início de 2003.

De lá pra cá, inúmeros incidentes desgastaram a relação entre os representantes dos estudantes e a chefia de departamento. Nesse ínterim, merecem destaque crítico tanto a inexperiência do CAPLAS e sua atuação informalista quanto postura ambígua da Chefia a despeito das reivindicações dos estudantes, o que também é validado pela informalidade generalizada. Alguns eventos exemplificam essas prerrogativas negativas e valem ser postos novamente à tona.

Quando se sabia, diante de anúncio oficioso, mas sem assinaturas, da participação do CAPLAS em comissão para reestruturação de espaço, a tal resolveu às escuras reunir-se à parte, esquecendo, cinicamente, os estudantes. Nessa mesma ocasião, por três vezes, duas seguidas, o mesmo assunto de pauta foi omitido pela chefia em reuniões de Colegiado. O assunto era a reinclusão do CA nas conversas sobre reestruturação do espaço físico do VIS.

Entretanto, diante de pressões e traumas a pauta foi aberta. Alegando que o CAPLAS não tinha atividade visivelmente constante, o Colegiado votou pela divisão do Ateliê 1 entre CA e aulas. A proposta abaixo-assinada pelos estudantes e encaminhada ao Chefe de Departamento era ocupação integral do espaço, bem como a melhoria de suas condições de segurança e início de direcionamento a atividades com a comunidade. A negação a esse pleito exacerba-se com o fato de dois alunos de Artes Plásticas terem sido pegos em flagrante furtando o PC do CAPLAS, doado por uma de suas colegas. O aparelho teve perda total ao cair das mãos de um dos criminosos.

Como atos exemplares, no entanto, vieram queixa à polícia e punição (à altura ou não), tanto do criminoso maior de 18 anos e de seu pupilo, quanto de todos os outros alunos. Reclamam os que não possuem micro que, além de serem prejudicados ao realizar seus trabalhos acadêmicos, ainda têm de conviver com impossibilidade de uso do laboratório localizado dentro do próprio VIS.

É de se espantar, portanto, que um corpo discente já descrente e apático com relação a políticas e reformas na Universidade, em seu currículo e na infra-estrutura de seu curso tenha passado por surrupiação tão pungente. A extensão histórica da passagem de gerações de aprendizes, que antes tinha seu espaço, ainda que pequeno, em algumas prateleiras de um armário velho, agora só existirá em fragmentos longínquos, em memórias tão fugazes quanto nossa carne. Apodreceremos todos em meio a esse mal, patético, que é a reivindicação egoísta da fala e do poder, do esqueleto, do espaço e das futilidades de que todo corpo oco diante de egos heróicos se enche ao tentar extinguir Histórias. A verdadeira tautologia do vazio.

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027
Quem morre faz poesia.
Viva.

A Língua grassa agonias,
Dita -

Doura
E finca a daga impávida

Chofra -
Dor sente quem a instiga,

Arde,
Pensando que poesia

Salva.

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