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allan de lana

sábado, julho 17, 2004

Sexo: muito diferente de quatro dê
Vão-me desculpar aqueles que desejam saber o dia do término da exposição "O Pornógrafo", eu não sei, mas antes fingir ser uma celebridade da e-pornografia a emprestar sua cara ao Mikey. Aquilo, sexo como interação virtual impressa e temporalizada, você pode experimentar, por enquanto, na galeria da UnB.

Esse é o tipo de encontro entre realidades que não se realiza na pretensão sapientista de uns ditos "pesquisadores". No CCBB, lá onde uma quarta dimesão tem sido referida para disfarçar deficiências nas ilusões bidimensionais miméticas de um 3D obsoleto, conceitos dos mais ecléticos se debelam para justificar atos viris demais. Trata-se da exposição "maior ou igual a 4D". Nada de errado em performances de corpos informáticos ou em uma projeção de serpente em morrinhos de areia. Aliás, é até muito competente quem viaja pelo Brasil levando a casa nas costas, como a tartaruga e, com isso, desenvolve teses maravilhosas. Mas acreditar-se pesquisador de ponta, ou de vanguarda, expor uma velharia que foi abandonada pela Atari, Sega e Nintendo ainda na década de minha (sua e nossa) infância e ainda frisar sua grande habilidade em ser artista multimídia e avançado é incoerente. 

Um dos nossos paridores nesse momento em que os títulos e as imagens de enunciados demasiadamente explicativos tentam tomar o lugar da competência prática e empírica deveria ser o Eco, o Umberto Eco. Ao falar do tempo do conteúdo, diz que o enunciado é típico da "expressão" (que põe assim, entre aspas) física da obra de arte. Nela há vários tempos, um deles é o de recomposição, que está explícito em um quebra-cabeças da mostra "O Pornógrafo" de autoria do João, nosso amigo (o brinquedo recompõe ao ser montado). O tempo do enunciado possibilita o aparecimento de um outro, o da enunciação, que é o da coisa representada ou, pode-se conceber, da coisa (re)assimilada. O que temos, entretanto, em uma das galerias do CCBB é o total despautério entre enunciado, enunciação e interação. O artista prepotente (quero dizer, "pesquisador") é tão capaz e superior que realiza a façanha de o discurso sobre a coisa existir antes dela (no que não há problema, mas) sem sequer implicar em sua origem, em sua construção factual ou manter qualquer ponto de contato com ela.
 
O que vemos são enunciações falseadas e sem lastro esnobando volúpia e um brilho ofuscante cheio de opacidade discursiva atravessadas como espadas no olhar entre o visitante e os enunciados da obra em suas características assimiláveis. Sinceramente, os pênis de chocolate da meg são mais apetitosos do que essa vontade portentosa e oca.
 
P.s.: Meus professores (inclusive os meus amigos), eu vos adoro, vocês são grandes pesquisadores, mas esse seu recalcamento elitista não se pode suportar. Espero que vocês não formem pesquisadores dessa elite postiça.

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