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allan de lana

segunda-feira, fevereiro 24, 2003

prato Azul-Pombinho
Fui ver a casa de Cora Coralina. Na cozinha, dela, muitos encantos. Uma carta de Jorge Amado a elogia no domínio da arte-culinária (mas provavelmente não seria em esquecimento à sua poesia). Um fogão a lenha. Uma geladeira amarela muito encantadora, daquelas bem gordinhas e baixinhas. Um livro de receitas e uma carta comunicando à Cora de que um de seus pratos à goiana havia sido a melhor receita da quinzena enviada àquela revista. Aquela cozinha é infantil como a cozinha de uma criança e facilmente nos encanta. Mas, ao visitá-la, não quebre nada, pois um adulto pode amarrar um caco do objeto quebrado ao seu pescoço como punição com o qual você poderá se machucar dormindo, como a poetiza lembra em seu escritório com sua louça chinesa modelo "Azul-Pombinho" quebrada.

quarta-feira, fevereiro 12, 2003

batendo as asas sem sair do lugar
"É férias". Essa é a expressão que amanhã deixa de ser expectativa para aproximadamente 600 estudantes do VIS (Departamento de Artes Visuais). Depois de terem entregado desenhos em quantidade além da centena, traçam agora seu caminho leve, aderindo ou não aos contornos carnavalescos extravasados por um preenchimento de muita folia.

Meu último trabalho do semestre teve como pretexto o tema "insetos alados". Aderi à ilusão do vôo e comecei a construir arquétipos da minha personalidade embrionária de inseto. A avaliação foi um sucesso, embora prejudicada por trabalhos entregues com atraso, de modo que pouquíssimo além do que chamei de "pretexto" pôde ser abordado.

O melhor dos desenhos na minha opinião parece praticamente desprezar a técnica e explicita uma abordagem da arte que em quase todos os contextos eu repudiaria: a abordagem idealista, que prega que uma obra de arte só existe em um momento: o da concepção intelectual ou da presença do real, pois a materialização da experiência levando em conta os materiais em que ela ocorre a transformam. Ou, ainda, mais radicalmente: segundo Gombrich "a percepção já estiliza" (entendendo-se a estilização nesse caso como incômoda). Esse desenho mostra como fazer um inseto usando seringas, mola e alfinetes; e suas asas usando plumas, elástico e cartão telefônico. O idealismo é nítido ao fazer do suporte e da matéria sobre ele um mero meio dúctil da idéia de um inseto que se pode construir, fazer bater asas, tornar voluntária sua picada e admirar sua estrutura pouco familiar, relegando o desenho à qualidade de instrução. Maior idealismo ainda é que a idéia fica melhor se executada mentalmente, sem fazer uso de qualquer cartão telefônico, seringa, ou o que seja, reais. De qualquer forma, esse desenho ainda permanece um bom registro de um momento e não perde uma certa estranheza estética. Eu espero tê-lo de volta e fazer uma moldura especial para dependurá-lo em meu quarto. (essa da moldura é brincadeira)

Amanhã ainda vou me despedir dos meus colegas e desejá-los que voem como insetos de verdade... Como o que pousou nos meus desenhos quando eu estava apresentando para admirar seus parentes e amigos dentro da "colméia". Ficarei, então, como aquele inseto que construí na mente, mas materializado. E materializado ele não voa, só bate as asas. Com isso, mudo meus planos de viajar pra São Paulo: trabalhos de férias... E descubro que sou um vagabundo que adora trabalhar.

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