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Minha foto
allan de lana

quinta-feira, dezembro 21, 2006

57 - supernova
sou uma letra
passada por
letra passada.

curvatura do alfabeto
de alfabetos.

sábado, novembro 11, 2006

aura, explica Walter Benjamin, é uma experiência do eterno sentida no momento transitório e único.

a fotografia tornou reprodutível o que antes era único. acabou com a aura. tirou-a do domínio exclusivo da aristocracia. a fotografia é uma burguesinha.

mas uma foto recupera sua aura, ela pode ter (e tinha) rastros da ação do aparelho (abrir-fechar), possui vida no tempo e se torna acúmulo de vestígios, um objeto com aura.

o contemplador, aquele que a restitui na versão atualizada e imaginária, faz que a imagem exista no momento único e transubjetivada. não adianta não querer, a aura vive!!!

além do discurso da originalidade e da unicidade, passamos à re-velação no instante. para isso, podemos utilizar a experiência do êxtase provocado por adrenalina e força.

não me apego à não-expansão-reposição das idéias de Walter Benjamin e, assim, afirmo que essa é uma estratégia da aura, não uma coisa do sujeito que prova dela.

a experiência do êxtase. o sujeito equivale-se à eternidade do transitório ao fazê-la e ganha a dimensão do cosmos por um pulso - ele é pura faísca presente.

um corpo cruza a linha de chegada e tomba: o chão é leito onde se dissipa o gozo, no momento em que a consciência reencaixa-se, em que a alma se torna novamente uma singular e minha puerilidade torna-se camada fina por chegar novamente no seu auge de energia.

em cada corrida me torno um sopro e, após ela, eu sou mais um.

quinta-feira, outubro 26, 2006

052
exquizencontros são
máquinas de poesia.

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051
concha
no mar é doce
docinho
sal

como eu faço
pra abrir
o oceano?

se abre pra mim
docinho
doce

uma linda foto
do mar se cabe

pra mim
me abre.


_____________________


053
cresci
fui trabalhar
parei de ir ao bar.

mas hoje,
agora,
vamos tomar
uma, só uma
cerveja?

eu sei,
você não vai sair de casa hoje,
mas nada custa implorar...


____________________


054
você sabe
nesse doce dia:
lou reed está certo
eu errado.

um café esquentaria
um pouco de solidão
mas eu sei
estamos acordados

eu bem aqui
e lá está você
bem depois da chuva
nevando.

lou reed está certo,
mas berlin está bem longe.


___________________


055
lembrei de perguntar: vc gosta de política?
depende
hehe


partidarismo
bom... há coisas que não gosto de discutir

ms vc gosta das coisas, apesar de não discuti-las?
uhum

então vc tem discussões interiores sobre elas?
obviamente

e vc sempre extrai algo de útil delas?
uhum!!!

e vc toma decisões a partir daí?

...

quero dizer: vc (sempre) toma decisões a partir das discussões interiores?
claro

e vc sempre obedece às decisões?
tenho bastante certeza quanto às minhas opiniões e decisões

e vc tem sempre domínio sobre elas?
como assim?

decide a partir da própria iniciativa.
exato.

sem abandonar a racionalidade extrema.
porquê as perguntas??
... claro que não


te provocar.
ms ainda tenho outra...

...

e depois?
o que?

depois que vc decide e põe em prática, vc decide outra vez sobre a decisão?

(pausa de 3 minutos)

(pausa de mais 1 minuto)

ta bom... eu consegui??


___________________


056
- eu desisto!

- mas como? a gente não ia conversar?

- quando? a questão é que...

- amanhã depois da aula!

- é que eu sou uma pessoa meio ansiosa. quer ver? ... olha pras minhas unhas - todas roídas!

- aiii! calma...

segunda-feira, outubro 23, 2006

crec

ruth souza, 2002
ruth souza, 2002. fotografia.














"(...) de uma forma exemplar, a morte é o acontecimento de todos os acontecimentos, o sentido no estado puro: o seu lugar radica no emaranhado anônimo do discurso; ela é do que se fala, já sempre acontecida e indefinidamente futura, e sem dúvida acontece no ponto extremo da singularidade. o sentido-acontecimento é neutro como a morte" (michel foucault, teatrum filosoficum - nietzsche, freud e marx, p.54).


ruth conta que quando criança escrevia seu nome nas largas folhas da sua árvore de infância, que hoje permanece no quintal de seus pais em sua antiga residência. folhas secam e caem - que sentido nisso? (não responderemos).

repetir a ação - colher o próprio nome no corpo seco, despojado e... um cadáver crocante, como o esqueleto de um sacrificado. ruth conta uma anedota que aprendera com sua avó, em que o cadáver-raiz desprende-se como pássaro - seria esse o percurso ascendente das folhas com seu nome próprio?

para josé miguel wisnik (ao aludir, em 'o som e o sentido', à pesquisa de marius schneider), o ritual de sacrifício mostra as permissões e interdições de uma sociedade onde sofrer e purificar fazem parte de uma mesma e feliz celebração - o sacrificado transforma-se em instrumentos musicais de mediação divina (seu couro, seus ossos ...) e participa da energia cósmica universal.

o seu cadáver é sonoro, como as folhas na sua crocomecânica monocórdia - sua nota variante e inconclusa varia de timbre e intensidade, porém é sempre a mesma. esse cadáver no qual o símbolo não pode fixar-se e que, enfim, é antes um corpo em transe que de tempos em tempos retorna, como a ave enterrada por uma criança e transportada pela raiz da folha novamente até as nuvens e o Sol, o vento e a mesma terra.

há cerca de dois meses, ruth abriu um ambiente construído em três cômodos da casa localizada nos fundos do quintal de seus pais, no Park Way (brasília-df). todo o chão do ambiente foi coberto de folhas secas e, entre vários objetos que lembram pessoas queridas, remetia àquela memória do corpo um dia despojado mas, outra vez, vivente.

a ordem do que vimos foi construída com o zelo daquele que arruma o seu quarto e guarda muito bem as memórias de prazer, as quais podem tornar-se o objeto de uma vida muito íntima. para compreendermos sua natureza, diremos que ela está sempre muito próxima daquele trauma da vida ou da memória que furou todo bloqueio da racionalidade para irromper em nascimento incontido, e um nascimento incessantemente recorrido em lembranças - essas, fragmentárias e jamais conclusas.

dentro de um armário, no segundo cômodo do ambiente-instalação em que entramos, havia um álbum de fotos. Ana estava lá, pequena e querida. guardada e protegida na escuridão negra de um interior em que sua imagem é sempre infância, nunca é Ana.

por um lado, justo a alegria da concepção ou o feliz amor como lembrança corporal, isto é, concretização dos anseios de uma família. por outro, a profunda ausência que nos violenta, sempre reposta como imagem impossível - uma totalidade plana e opaca. o nascimento é um eco sem fim entre essas duas paixões. o prazer da vida aqui é mostrado, portanto, em uma relação ambivalente com a dor, figura de sublimação e de investimento energético simultâneos.

lembramos que nesse aspecto o som é fundamental. uma boneca gira e faz ressoar "yesterday" de uma caixinha de música. a barra do seu pequeno vestido azul, usado por Ana em suas fotos, repete, a cada volta, o contato seco com as folhas, nas quais arrasta-se numa idêntica e constante pulsação.

em dois ambientes encontramos camas. eles são bem distintos. porém, nos parece que as germinações de grãos de feijão na primeira cama e o ramster que deveria mover um aparelho foto-cinético de ruth, ao pé da segunda, instauram a tentativa de separação entre vida e morte.

seria necessário ligar esses cômodos como núcleos anamórficos ou instáveis para presenciarmos a figuração total do corpo-memória que intuímos. fazendo esse esforço de união é que podemos entrever um deslocamento simbólico entre objetos de desejo e a volubilidade do sentido familiar, sempre lembrança - afânise e presença.







allan de lana, copa


allan de lana, folhas
allan de lana, copa
allan de lana, copa e folhas de amendoeira. brasília - altura da 208 sul, próximo ao eixo monumental.

segunda-feira, outubro 16, 2006

mariposa, traças, formigas

terça-feira, outubro 10, 2006

companheirismo
ousei entitular isso que escrevo, porque faz parte de um exercício segundo alguém que não deixaria nada como um amontoado inominável. hannah arent. vou buscar essa companhia tão longe tendo tantas pessoas queridas, mas certamente elas não me punirão.

falo de alguém que está de corpo ausente. mas, se admito a perspectiva de transfiguração da ausência, com nietzsche - a vida como eterno retorno do mesmo - tal como rogério basali fez hoje no minicurso-seminário que proferiu na UnB, diria que arent está aqui: "eu sou todos os homens" (nietzche, em 'ecce homo').

desconcertante, percebo a dificuldade do substantivo em qualificar gêneros - "homens"? diria então, bem entendido: eu sou toda a memória ou toda a ampulheta em uma única "poeirinha da poeira" (idem, em 'a gaia ciência'). talvez a partir daqui fizéssemos a perfeita junção desses dois filósofos - um se recusa a guardar e transvalorar, o outro faz que a vida seja pensamento-vida como acúmulo interminável, com toda a carga de uma pesada questão... de um corpo que um dia se despoja como um dado que não percebemos, um corpo ao qual não resistimos (memória inconsciente). arent + nietzche = ação e memória.

arendt quer-nos mostrar o que é agir e fabricar o mundo. para ela, toda obra existe quando é fabricada (pela ação) e perdura enquanto bem ou coisa material - sua vida ultrapassa a do agente, a do autor, a do artesão. está fora de suas mentes e, poderíamos ousar dizer, o fato de a obra originar-se da razão demonstraria o exercício de liberdade que a aproximaria da política ou pelo menos de um espaço político.

da minha existência poeiril, olho para essa arendt da outra bandeija da nossa libra e imagino que hoje, nesse momento, ela seja a minha mais pesada questão. me força a querer estar "entre o passado e o futuro", mesmo sabendo que esse lugar é apenas uma invenção, assim como os outros. o que agrada nisto senão a companhia? pois não há ação nem liberdade de um só.

as atividades em homenagem ao centenário de arendt tiveram início hoje e vão até 14 de outubro, quando ela completaria 100 anos. a programação pode ser obtida em http://www.amormundi.org/.

domingo, setembro 17, 2006

para onde?
.





para onde?



domingo, setembro 03, 2006













050

eu sou uma variação do modelo, não um ser evoluído.
somente uma nota, absoluta e localizada.













sábado, julho 29, 2006



olho de quarto

domingo, junho 25, 2006

desço a barra de rolagem e vejo uma fotografia de um quadro, que não mostra dele senão um mínimo detalhe de aproximadamente 6 x 8 cm. Aquela visão é possível apenas ao mirante do Jacroá. Contemplando a altura das montanhas escorregamos até os vales onde há lagoas - são umas doze ao todo, das quais na imagem que temos aparecem três, encobertas pela neblina da distância, bem a uns 20 Km dali. O acesso é por Marliéria, cidade cuja história nos conta ter sido fundada em 1865, por Guido Marlière, um grande visionário francês. Guido teria subido ao pico de uma montanha pouco íngrime à cavalo. Imagino que sua mãe o acompanhava a partir de um porta-retratos de ouro em forma de pêndulo, guardado no bolso, às vezes confundido com o relógio prateado do desbravador! No cimo, então, esse homem crédulo e benfeitor inflou o diafrágma e arrepiou os supercílios erguendo uma espada que cintilou raios emocionados por todo o seu peito. Naquela tarde porém nublava. Sua vontade maior era insuflar em tudo o Deus, num único ato de heroísmo que reluzisse até os píncaros das mais remotas cabanas, na alma de todos os banhistas das doze e das outras tantas lagoas de água quente. Quem sabe chegaria seu clamor até o organismo das piranhas que também nadavam em nosso detalhe de pintura!!! Desse espírito imbuído, liberou com verves aquele espanto acumulado em suas botas enquanto contemplava os vales se tornarem vales na medida em que galopava para arribar tantas montanhas, que por sua vez iam virando matas. Foi assim que, arrepiado e sem muito fôlego, pensou e sentiu emoção no corpo, enquanto gritava para um mundo inteiro de carrapatos e cobras que o cercava: "Je croix!!!". Um século se passou e algum administrador benevolente homenageou a cidade dando o nome de seu fundador a toda a região alcançada pelo grito, que teve, sem dúvida, uma ressonância débil, fatigada. Depois, um prefeito aproveitou a sabedoria popular para nomear uma área de um monte, muito bem localizada para visagens panorâmicas, de "Pico do Jacroá" - uma transcrição refinada, do berro de Guido, para o bom e velho português mineiro.

À caminho do Pico, uma exuberante vegetação pode ser contemplada sob a frescura de nichos e corredores à sombra, entre paredes levemente desbarrancadas de uma montanha e árvores com diferentes espaçamentos e alturas. O único inconveniente é que, enquanto caminhamos 5 Km de subida, acabamos por suar e reter toda uma camada da estrada de terra em nossa pele a cada vez que um automóvel guiado sem a devida cortesia e educação passa veloz. Mas nada fustiga a alegria de ver espíritos solitários aproximarem-se lentamente, como se geradas do barro e, riscando o espaço, remodelando-o com um simples movimento de caminhada, levarem a emanações de magnetismo. Os corpos, quando se aproximam assim com esse flúido cósmico, realmente vibram e remodelam a posição de suas partículas. Toda sensibilidade renova-se e curva-se, tomando a forma de uma saudação receptiva e curiosa. Toda a natureza, porém, tonifica esse mundo. Nunca me esquecerei daqueles senhores da volúpia e da leveza no caminhar, revestidos por um aveludamento verde-vessie com luz refletida em azul turquesa surgido de um suculento rio ou de uma lagoa cheia de piranhas, que agora creio ser a verdadeira mistura de cores da Vitória de Samotrácia, uma vez que elucidam o mesmo espírito dos ventos. Exitaria em chamá-los de marimbondos, uma vez que isso poderia instigar certos preconceitos. Comportavam-se dóceis e cônscios dos limites territoriais de sua doçura, além de parecerem ter um aguçada visão, o que não existe na maioria dos marimbondos.

Naquela manhã em que eu ia, solitariamente, pisando a terra para regressar do Jacroá às casas de minhas tias em Marliéria, fruí da presença de tais seres com a confiança que se tem em guardiões de algo a intuir-se como a queda de uma pétala a partir das nuvens. Intuição apenas, cujo ímpeto à captura nos envenenaria, trazendo o deleite entorpecente da morte e alucinações idílicas - essa paz que salivamos ao contemplar um ser cujo caminhar é quase um pouso e que assim também se ergue leve no ar enquanto anda com as patas. Sua mecânica é limitada por um cânone estético: nenhum movimento brusco com as asas, para mostrá-las plenamente. Veladuras de vessie trespassadas por nervos em três níveis básicos de espessura, o grosso, o fino e o finíssimo, para os quais avançam e obscurecem, desde suas proximidades, tons de azul da prússia. Arremate alaranjado sobre rugas de um extremo que já quase não se liga ao corpo, doando-se aos humores do vento, como uns rendados tecidos por uma criança de quem a agulha exita e escorrega. Por fim, o movimento galante, cuja cadência às vezes se altera, mas se mantém nos limites do apreensível, de modo que um desenhista animador muito aprenderia observando-lhe por horas. Para mostrar toda exuberância, o movimento não é suficiente para altos vôos, assim os guardiões levitam como espíritos, mantendo suas patas distantes da base o suficiente para que também caminhem, contanto que as asas estejam prestes a transportar suas almas por destinos virtuosos. Às vezes eu me convencia de que toda aquela natureza e o caminho que a cortava eram suspensos pela imponência desses habitantes, além de seguros por suas patas e conduzidos no alto por suas asas!!!

Alguns cruzavam em minha frente, tranqüilos, mas fluíam em sentido contrário quando eu me aproximava.



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hoje é segunda-feira. Se bem que já se foram as 24 horas - é terça, mas vivo ainda o meu astral de hoje, para o qual ainda é uma segunda-feira.

... ou talvez eu me engane: nada melhor do que uma terça para pensar nos prazeres e lamúrias ao longe, como se já nos tivessem pertencido um dia, num sábado, talvez. Domingo...

é certo, porém, que esse conflito não mudará a verdade sobre o dia de hoje. Ele não existe e não me convencerá, nem sequer um perspicaz, da existência dos dias! Assim também são os diários: podemos acumular impressões como se todas elas ocorressem no domingo. Riscamos as seqüências de um a trinta e um, a trinta, a vinte e oito ou nove ao longo das páginas, usando borracha e "liquid-paper", destituímos-nas das orelhas da agenda em todo um mês e mais trezentos dias - são o mesmo e único domingo.

a vida sem os dias é como um alongamento ao acordar de manhã sob uma ducha quente. Sentimos que nossos poros refazem-se levemente, como se abrissem apenas para inflarem-se da disposição de que a luz os mantenham aquecidos e em expansão. É quando dilatamos o nosso espírito de modo a resultar em leves assanhamentos capilares e libidinosos - epifania tântrica.

os dias não passam de simulação incronguente do ritmo circadiano - os ciclos de estações, de dias e noites, de repetições astrais circulares... O que produziram de mais fantástico foi uma peripécia involuntária. Abro a Poética de Aristóteles, que me diz ser a peripécia uma ação que evolui para o seu contrário. Teríamos os dias como registro de ciclos naturais, mas hoje perduram como a marca de esquecimento dos fatos e dos sentidos: acreditamos naquilo que os relógios nos informam e o ciclo perde sua positividade para o diagrama. É assim que vive um cidadão comum.

ora, mas comecei a declarar-me um nostálgico, quando lembrei de caluniar os dias... Mas para mim não há nostalgia sem pensar no que nos tornamos. Porém, a minha não tem nada que reivindique o passado, esse tempo que construo como sinônimo do último domingo, quando tive um dos clímax de uma crise sentimental que se vem arrastando, não por ter-me apaixonado, mas por ter saído dos esquadros bem traçados de um Cronos robótico.

pena que, diante de tantos devaneios meus, chegou a hora de um descanso, motivo pelo qual não irei explorar o assunto principal que propus no início. Objeta-me: "sair assim de sopetão deixará espaços para inúmeras indagações e até conclusões!" e "concluir é um dever moral!". Treplico: quando o sono ataca bem determinadamente, a vaidade e a moral são desligados de modo tão perfeito que sonhamos, com a liberdade dos ventos.




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o que relato em 5 minutos, que é o tempo desse número teatral - um monólogo? Não sei porque, sempre me sinto pendurado por uma linha finíssima que liga uma gaveta de rasgados a um destino em breu. Um fio do qual sinto, pendurado pela haste craniana perfurada de fora a fora, os seus extremos perdidos, sem avistá-los: sei por onde vêm e vão, sinto a sua tônica toda vez que uma paixão me interroga. E uma vez ela mesma me fitava com uma chave-de-fenda enquanto eu acordava num lugar estranho, então pensei nas nossas posses: há algo que possui mutuamente aqueles que se apaixonam e que pode ser levado às últimas conseqüências, pois o amor é um exagero. E se ela me parafusasse na parede? Era de fato o que premeditava e o desfecho que teria nossa história se eu estivesse talvez um pouco mais sujeito e desprotegido. Parafusar-me-ia e apontaria ao próximo a dormir em seu leito: "olha, um quadro sentimental e trágico, cujos efeitos de luz e espaço foram baseados em sonho". Quem discordaria dessa forma de amar? Afirmo que é legítima e verdadeira, por mais que se enrosque em parafusos e, talvez, possamos dizer, seja a forma autoritária de corresponder à seguinte espécie de abertura de espírito, que é a minha: "amo a quem me fizer de luva". Por esse caminho, seria autoritário transformar o outro em uma pele legítima arrancada de um urso ou em um quadro sinistro, pois ao escolher tal caminho pela razão e pela comodidade, deve-se perguntar: "quantos lados tem uma luva e quantas mãos ela simula?".

os 5 minutos se transformaram em 15... Ah, são tantos rasgados!

segunda-feira, maio 01, 2006

in-signos

terça-feira, março 21, 2006

048
e agora, essa gordura de presunto em minhas mãos
uma bomba armada em minha mala
aquele morto subindo a escada rolante
?

049
te amo com as ogivas de minhalma
tenho cautela ao beijar teus seios
sofremos mal de pátria...
e que ninguém nos descubra!

quinta-feira, março 02, 2006

me pergunto:
a leitura em voz baixa é mesmo uma modalidade de leitura?

e ainda:
em voz baixa ou em silêncio?

quem é o interlocutor do meu silenciar?

quem assiste essa minha atividade ou essa minha objetividade, que é insondável, para com as palavras?



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47
quanto mais eu leio, mais percebo não estar vivo.
quanto menos eu leio.



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ponderações
... mas é preciso silenciar às vezes, desde que isso não implique em uma crise de auto-afirmação, numa negação depreciativa do ouvido.
... dizer, afirmar, perspectivar e provocar é precioso - mas perder os ouvidos na própria língua é uma bobagem.
... o george bú é um falastrão - veja a merda...
... severinos e mendoncinhas silenciaram às vezes como sintoma de uma patologia moral (isso indica que eles negaram o ouvido - sentiram a marginalidade de um órgão fundamental)...

... a leitura se dá em silêncio, a vidência no escuro...
o toque - na distância do desejo...

... o amor é uma relação de conhecimento...

... andam procurando escorpiões debaixo dos lençóis - os que querem achá-los com a própria língua perderam não só a cabeça, mas o seu cérebro diluiu-se, depois decantou-se (e agora deve estar boiando) no verbo-de-molas...

quarta-feira, março 01, 2006

a capacidade de conhecer sem ouvir é o teletransporte, fruto de uma das maiores revoluções que a sociedade cristã idiota já presenciou - a loucura.

domingo, fevereiro 12, 2006

a poética da fêmea parece uma expropriação de aristóteles - ela é uma potência imanente na atualidade em movimento, mas um movimento que não apenas se , além disso, suas qualidades também se ligam à impressão.

dinamofêmea
trata-se de uma obra sonora, mas não é um produto cultural cuja linguagem é a música (pois faz parte de intertextos diversos), embora seja harmônica e melódica. letra composta por deslocamentos de dois "lances" aleatórios de texto pertencentes a duas obras filosóficas.

personagens:
pseudo-édipo
esfinge
zaratustra

pseudo-édipo: tu sabes, zaratustra, mas não dizes.
zaratustra: sei, não nego.

esfinge: alethéia, ousia, arké, energeia.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

uma lesma carnívora habita o mastro maior do mundo.



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minha recente atividade
elaborar matérias interceptoras de diferentes freqüências e aparências de vazio, para entrever a fêmea. nela me lanço como gestação desse espaço de vibrações, de armadilhas, e instauro o ritual pré-imagem do meu próprio sujeito.
após racionalizar em parte essas tentativas, denomino-las de miméticas. Mas estou certo, agora, de que elas não consumarão nenhum objeto mimetikos definido, pois esse objeto depende de uma ordem exterior e de credibilidade (e toda crença é fugaz, salvo ameaças fascistas ou cristãs, que forçam, sem escrúpulos, não abandoná-las). daí a natureza necessariamente como produção.
a produtividade humana é maquínica porquanto o Ser ou a veracidade só podem ser a própria transformação (ou movimento) e, desse modo, são verdadeiros, como o amor em noel rosa - para que exista precisa instaurar um campo simbólico da verdade. isso ocorre com a mentira, um artifício catártico de reconciliação.
pode-se aproximar a mímese a um campo ou dimensão das certezas, no qual a fêmea é uma força geradora refratada enquanto pressentimento da imagem.

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