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allan de lana

terça-feira, outubro 10, 2006

companheirismo
ousei entitular isso que escrevo, porque faz parte de um exercício segundo alguém que não deixaria nada como um amontoado inominável. hannah arent. vou buscar essa companhia tão longe tendo tantas pessoas queridas, mas certamente elas não me punirão.

falo de alguém que está de corpo ausente. mas, se admito a perspectiva de transfiguração da ausência, com nietzsche - a vida como eterno retorno do mesmo - tal como rogério basali fez hoje no minicurso-seminário que proferiu na UnB, diria que arent está aqui: "eu sou todos os homens" (nietzche, em 'ecce homo').

desconcertante, percebo a dificuldade do substantivo em qualificar gêneros - "homens"? diria então, bem entendido: eu sou toda a memória ou toda a ampulheta em uma única "poeirinha da poeira" (idem, em 'a gaia ciência'). talvez a partir daqui fizéssemos a perfeita junção desses dois filósofos - um se recusa a guardar e transvalorar, o outro faz que a vida seja pensamento-vida como acúmulo interminável, com toda a carga de uma pesada questão... de um corpo que um dia se despoja como um dado que não percebemos, um corpo ao qual não resistimos (memória inconsciente). arent + nietzche = ação e memória.

arendt quer-nos mostrar o que é agir e fabricar o mundo. para ela, toda obra existe quando é fabricada (pela ação) e perdura enquanto bem ou coisa material - sua vida ultrapassa a do agente, a do autor, a do artesão. está fora de suas mentes e, poderíamos ousar dizer, o fato de a obra originar-se da razão demonstraria o exercício de liberdade que a aproximaria da política ou pelo menos de um espaço político.

da minha existência poeiril, olho para essa arendt da outra bandeija da nossa libra e imagino que hoje, nesse momento, ela seja a minha mais pesada questão. me força a querer estar "entre o passado e o futuro", mesmo sabendo que esse lugar é apenas uma invenção, assim como os outros. o que agrada nisto senão a companhia? pois não há ação nem liberdade de um só.

as atividades em homenagem ao centenário de arendt tiveram início hoje e vão até 14 de outubro, quando ela completaria 100 anos. a programação pode ser obtida em http://www.amormundi.org/.

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