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allan de lana

domingo, maio 25, 2003

Galeria da CAL. Uma instalação contém linhas pretas a partir do teto que dependuram muitos lápis "faber castel". Aguém disfarçadamente desenha com um lápis na parede branca. O artista ao ver o desenho se revolta ameaçando pintá-lo com tinta branca. Sua obra, não percebe ele, ganhou independência, ao que devia estar contente. Pergunto então:
- Mas o discurso dessa sua instalação não é sobre desenho? Não é de desenho que ela trata?
Nitidamente as linhas em tridimensão pretendiam contrastes que imitavam uma técnica usada também para imitação (o desenho), fazendo, provavelmente sem o artista querer, com que a mímesis reaparecesse (ela havia sofrido atentado já na arte moderna), mas dessa vez ao avesso: a imitação daquilo que já não pretende representar.
- É... É isso. Mas se eu quisesse que alguém riscasse eu haveria deixado isso claro. Eu teria escrito aqui, ó: desenhe. Se ao menos fosse um desenho bonito, mas é essa coisa feia aí!
Fiquei calado. Vendo aquela obra de arte que tinha virado a independência tétrica do Dr. Frankstein. Só agora ela tinha ganhado um sentido revelador e o autor não percebia isso. Mais uma vez o Gombrich estava certo em sua "Arte e Ilusão": as linguagens são instituídas e disseminadas e a nossa expressão vai-se limitando ao que a gente conhece previamente.
- O transgressor pelo menos entendeu o seu recado. Mas deve ter sido mesmo demasiado transgressor - disse eu para consolá-lo.

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