...

Minha foto
allan de lana

domingo, setembro 05, 2004

Merz
Conhecer o merz é simples e importante. Ele é uma negação sarcástica da razão utilitária.

Como a dialética de Hegel, na denúncia de Michael Peters, composta por negações que constroem a afirmação segundo um princípio de diferença, pode-se pensar o merz em termos do que não é. Peças cheias de "styling" feitas com sucata e ferro velho não o são. Elas podem captar o sentido mercantilista da reciclagem, o mesmo buscado por marqueteiros preocupados em aparentar responsabilidade com o meio ambiente, mas são falsas obras de arte.

O merz verdadeiro, como eu e você praticamos, não se deixa conduzir por moralismos do momento, ele não tem a utilidade como razão de si. O seu autor não abdica do estar-aí, do "ser-no-mundo" e no outro, como primazia da consciência-de-si-no-mundo. O gênio, ao contrário, despreza valores que possam contrariar o luxo idealizado por seus compradores e faz um lixo estilizado.

Para avançar ao conceito, uso a sintaxe anti-nazi de W.Benjamin: afinal, o que é o merz? É uma experiência singular, composta de elementos espaciais e temporais, mas também de relações plásticas, tensões visuais, e sensações conceituais geradas pela descontextualização do elemento descartável. Foi nomeado por Schwitters em 1919, quando usou em sua colagem um folheto de um banco comercial (comércio em alemão = kommerz).

Um dos princípios fundamentais do método de Schwitters consistia em escolher materiais descartados, ordená-los, sobrepô-los e pintá-los parcialmente, de modo a tornar muitas de suas características e textos quase completamente ilegíveis. Obtinham-se relações de tensão compositiva e novas leituras para os "Descartes". Conceitualmente esse princípio pode ser resumido como alteração das relações funcionais com o objeto. Da importância à massificação e do apelo utilitarista vai-se à experiência única, tanto de criação quanto de uso. Das coisas mais ignoradas nas relações despersonalizadas e anômalas vai-se à plasticidade e à percepção. Não há a mínima necessidade de asfixiar a falta de originalidade dos materiais utilizados.

Nenhum comentário:

Arquivo do blog