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allan de lana

sábado, novembro 06, 2004

Quem não foi à vernissage de ontem à noite não viu a infância das "Duas maneiras de furar a si mesmo". Os papéis se modificaram. O vento os torceu e a umidade da chuva invadiu a galeria. O lugar não é mais o mesmo. Convido-os para que assistam a essa metamorfose.

Breve comentário do Matias Monteiro
"A exposição de Allan de Lana na galeria de Bolso da Casa de Cultura da América Latina resiste a escrita. Ele constitui um espaço á parte; Allan nos lança irremediavelmente a um espaço outro, onde elementos flutuam em um desdobramento espacial que não se limita. A idéia dos furos e perfurações (já não recente nas pesquisas de Allan, mas só agora aberta ao público) não perde de vista a agressividade inerente no ato de perfurar, de vencer camadas, forçar caminhos e irromper superfícies. As pequenas inscrições pueris que Allan dispõe sobre as paredes revelam essa agressividade. Mas há também nelas muita suavidade. A perfuração neste trabalho se insere entre o ato violento de romper, e uma poética do não-limite, da não barreira, uma tentativa de igualar interior e exterior em um só espaço. A escolha de Allan pelos grafos infantis parece, neste aspecto, bem acertado. Não se trata de uma ingenuidade, mas de uma clara percepção da infância em si. O mundo também nos irrompe, nos adentra de forma violenta, ou na ambigüidade inerente a violência (furar o papel não com a ponta do prego, mas com sua outra extremidade umidecida). Disso advém uma possibilidade de amplitude.
Os pregos na parede sustentam com certa suavidade os textos e inscrições poéticas. O prego desconhece, ou conhece mas despreza, os limites físicos da sala. Ele quer ir além, ir através... O enxame de maribondos (são todos um nesse jogo de réplicas do coletivo) transfiguram-se em um só ataque, em uma só ferroada. Allan possivelmente não sabe, mas é discípulo inegável de Thanatus; seu furo aponta para uma possibilidade de equilíbrio de suspensão tencional, esse corpo perfurado é o corpo da não resistência, um corpo não mais tencionado, um corpo sem interior... um corpo que dessolve mediante a crueldade do furo, em total amplitude espacial".

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