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allan de lana

terça-feira, agosto 28, 2007

explorações

Freud, em cartas a seu médico Fliess, começa a explanar-lhe o que seria o conceito de exploração, o qual é retomado por Derrida na década de 1960, para compreensão de como a teoria literária poderia contribuir com a psicanálise e valer-se do seu legado nas investigações sobre a leitura e aquilo que se chamou diferencia (uma espécie de ato constante de diferir e construir-se a partir da diferença - em francês, differance). por um lado, teríamos a impressão do que se sente, do que vem de fora (o tato, por exemplo, é sentido nos dedos ao digitarmos no teclado), impressão a cada vez iniciada e apagada, um estímulo não memorizado e recebido sempre como se fosse o primeiro. por outro lado, tal estímulo levaria informação a neurônios do cérebro capazes de armazená-la, porém sempre parcialmente e, a cada estímulo, surgiria a sensação de memória a partir das diferenças entre as suas explorações. exploração é um conceito-chave para pensarmos as transformações do século XX nas artes visuais e performáticas, não só se estivermos focados em literatura, pois dificilmente terminaremos uma lista dos inúmeros artistas que se valeram da citação ou da repetição. Só como um dos exemplos possíveis, buscamos um comentário do crítico português João Lima Pinharanda sobre a pintura de Jorge Martins, ao considerá-la "sombra sem corpo":

Uma dança de espectros assombra, no sentido direto da palavra, a realidade contemporânea.

Usando toda a sorte de duplicações e desmultiplicações, cópias, clones do velho, mortal e gasto corpo humano (de que menos recusamos a admitir a fragilidade heróica, que desejamos esquecer e que desejamos descartar), as sombras são aquilo que podemos designar como o que nos resta, como o lixo.

(...) reproduzimos os seus movimentos [movimentos do corpo] de desesperado e inesperado explendor, projetando-o na tela de um cinema, fazendo-o brilhar no monitor de uma televisão (ecrãs), repetindo-o na tela de uma pintura. Mascarando-(n)o(s).

não obstante esse aspecto assobroso de um duplo ameaçador que se faz tão presente no mundo contemporâneo, a possibilidade de que a memória tenha algo de positivo também estaria, segundo Freud, sujeita à exploração, na qual não há uma origem, um arqui-sujeito. Segundo ele, o "arqui" está riscado, mas, sob riscos, o vemos legível, como isca a atrair-nos para encontrá-lo intacto.

o áudio abaixo resulta do aspecto produtivo e, para mim, positivo da exploração, no qual ela não representa uma perdição em busca do "arqui". tratam-se de fragmentos da obra gradeado, editada hoje, uma exploração a respeito de uma cerca que encontrei próxima de uma rodoviária - cuja imagem lembro vagamente - em volta de um curioso monumento maçonico e também a respeito de uma enorme escultura com metal enferrujado e repleta de vazios, vazios enormes e vazados, da autoria de cildo meireles.




gradeado


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