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para onde?
silêncio total, aparentemente...
050
eu sou uma variação do modelo, não um ser evoluído.
somente uma nota, absoluta e localizada.
Postado por allan de lana às 11:51 AM 0 comentários
desço a barra de rolagem e vejo uma fotografia de um quadro, que não mostra dele senão um mínimo detalhe de aproximadamente 6 x 8 cm. Aquela visão é possível apenas ao mirante do Jacroá. Contemplando a altura das montanhas escorregamos até os vales onde há lagoas - são umas doze ao todo, das quais na imagem que temos aparecem três, encobertas pela neblina da distância, bem a uns 20 Km dali. O acesso é por Marliéria, cidade cuja história nos conta ter sido fundada em 1865, por Guido Marlière, um grande visionário francês. Guido teria subido ao pico de uma montanha pouco íngrime à cavalo. Imagino que sua mãe o acompanhava a partir de um porta-retratos de ouro em forma de pêndulo, guardado no bolso, às vezes confundido com o relógio prateado do desbravador! No cimo, então, esse homem crédulo e benfeitor inflou o diafrágma e arrepiou os supercílios erguendo uma espada que cintilou raios emocionados por todo o seu peito. Naquela tarde porém nublava. Sua vontade maior era insuflar em tudo o Deus, num único ato de heroísmo que reluzisse até os píncaros das mais remotas cabanas, na alma de todos os banhistas das doze e das outras tantas lagoas de água quente. Quem sabe chegaria seu clamor até o organismo das piranhas que também nadavam em nosso detalhe de pintura!!! Desse espírito imbuído, liberou com verves aquele espanto acumulado em suas botas enquanto contemplava os vales se tornarem vales na medida em que galopava para arribar tantas montanhas, que por sua vez iam virando matas. Foi assim que, arrepiado e sem muito fôlego, pensou e sentiu emoção no corpo, enquanto gritava para um mundo inteiro de carrapatos e cobras que o cercava: "Je croix!!!". Um século se passou e algum administrador benevolente homenageou a cidade dando o nome de seu fundador a toda a região alcançada pelo grito, que teve, sem dúvida, uma ressonância débil, fatigada. Depois, um prefeito aproveitou a sabedoria popular para nomear uma área de um monte, muito bem localizada para visagens panorâmicas, de "Pico do Jacroá" - uma transcrição refinada, do berro de Guido, para o bom e velho português mineiro.
À caminho do Pico, uma exuberante vegetação pode ser contemplada sob a frescura de nichos e corredores à sombra, entre paredes levemente desbarrancadas de uma montanha e árvores com diferentes espaçamentos e alturas. O único inconveniente é que, enquanto caminhamos 5 Km de subida, acabamos por suar e reter toda uma camada da estrada de terra em nossa pele a cada vez que um automóvel guiado sem a devida cortesia e educação passa veloz. Mas nada fustiga a alegria de ver espíritos solitários aproximarem-se lentamente, como se geradas do barro e, riscando o espaço, remodelando-o com um simples movimento de caminhada, levarem a emanações de magnetismo. Os corpos, quando se aproximam assim com esse flúido cósmico, realmente vibram e remodelam a posição de suas partículas. Toda sensibilidade renova-se e curva-se, tomando a forma de uma saudação receptiva e curiosa. Toda a natureza, porém, tonifica esse mundo. Nunca me esquecerei daqueles senhores da volúpia e da leveza no caminhar, revestidos por um aveludamento verde-vessie com luz refletida em azul turquesa surgido de um suculento rio ou de uma lagoa cheia de piranhas, que agora creio ser a verdadeira mistura de cores da Vitória de Samotrácia, uma vez que elucidam o mesmo espírito dos ventos. Exitaria em chamá-los de marimbondos, uma vez que isso poderia instigar certos preconceitos. Comportavam-se dóceis e cônscios dos limites territoriais de sua doçura, além de parecerem ter um aguçada visão, o que não existe na maioria dos marimbondos.
Naquela manhã em que eu ia, solitariamente, pisando a terra para regressar do Jacroá às casas de minhas tias em Marliéria, fruí da presença de tais seres com a confiança que se tem em guardiões de algo a intuir-se como a queda de uma pétala a partir das nuvens. Intuição apenas, cujo ímpeto à captura nos envenenaria, trazendo o deleite entorpecente da morte e alucinações idílicas - essa paz que salivamos ao contemplar um ser cujo caminhar é quase um pouso e que assim também se ergue leve no ar enquanto anda com as patas. Sua mecânica é limitada por um cânone estético: nenhum movimento brusco com as asas, para mostrá-las plenamente. Veladuras de vessie trespassadas por nervos em três níveis básicos de espessura, o grosso, o fino e o finíssimo, para os quais avançam e obscurecem, desde suas proximidades, tons de azul da prússia. Arremate alaranjado sobre rugas de um extremo que já quase não se liga ao corpo, doando-se aos humores do vento, como uns rendados tecidos por uma criança de quem a agulha exita e escorrega. Por fim, o movimento galante, cuja cadência às vezes se altera, mas se mantém nos limites do apreensível, de modo que um desenhista animador muito aprenderia observando-lhe por horas. Para mostrar toda exuberância, o movimento não é suficiente para altos vôos, assim os guardiões levitam como espíritos, mantendo suas patas distantes da base o suficiente para que também caminhem, contanto que as asas estejam prestes a transportar suas almas por destinos virtuosos. Às vezes eu me convencia de que toda aquela natureza e o caminho que a cortava eram suspensos pela imponência desses habitantes, além de seguros por suas patas e conduzidos no alto por suas asas!!!
Alguns cruzavam em minha frente, tranqüilos, mas fluíam em sentido contrário quando eu me aproximava.
Postado por allan de lana às 3:15 PM 0 comentários
048
e agora, essa gordura de presunto em minhas mãos
uma bomba armada em minha mala
aquele morto subindo a escada rolante
?
049
te amo com as ogivas de minhalma
tenho cautela ao beijar teus seios
sofremos mal de pátria...
e que ninguém nos descubra!
Postado por allan de lana às 1:32 PM 0 comentários
me pergunto:
a leitura em voz baixa é mesmo uma modalidade de leitura?
e ainda:
em voz baixa ou em silêncio?
quem é o interlocutor do meu silenciar?
quem assiste essa minha atividade ou essa minha objetividade, que é insondável, para com as palavras?
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47
quanto mais eu leio, mais percebo não estar vivo.
quanto menos eu leio.
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ponderações
... mas é preciso silenciar às vezes, desde que isso não implique em uma crise de auto-afirmação, numa negação depreciativa do ouvido.
... dizer, afirmar, perspectivar e provocar é precioso - mas perder os ouvidos na própria língua é uma bobagem.
... o george bú é um falastrão - veja a merda...
... severinos e mendoncinhas silenciaram às vezes como sintoma de uma patologia moral (isso indica que eles negaram o ouvido - sentiram a marginalidade de um órgão fundamental)...
... a leitura se dá em silêncio, a vidência no escuro...
o toque - na distância do desejo...
... o amor é uma relação de conhecimento...
... andam procurando escorpiões debaixo dos lençóis - os que querem achá-los com a própria língua perderam não só a cabeça, mas o seu cérebro diluiu-se, depois decantou-se (e agora deve estar boiando) no verbo-de-molas...
Postado por allan de lana às 11:31 PM 0 comentários
a capacidade de conhecer sem ouvir é o teletransporte, fruto de uma das maiores revoluções que a sociedade cristã idiota já presenciou - a loucura.
Postado por allan de lana às 8:36 PM 0 comentários
a poética da fêmea parece uma expropriação de aristóteles - ela é uma potência imanente na atualidade em movimento, mas um movimento que não apenas se vê, além disso, suas qualidades também se ligam à impressão.
dinamofêmea
trata-se de uma obra sonora, mas não é um produto cultural cuja linguagem é a música (pois faz parte de intertextos diversos), embora seja harmônica e melódica. letra composta por deslocamentos de dois "lances" aleatórios de texto pertencentes a duas obras filosóficas.
personagens:
pseudo-édipo
esfinge
zaratustra
pseudo-édipo: tu sabes, zaratustra, mas não dizes.
zaratustra: sei, não nego.
esfinge: alethéia, ousia, arké, energeia.
Postado por allan de lana às 10:28 PM 0 comentários
uma lesma carnívora habita o mastro maior do mundo.
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minha recente atividade
elaborar matérias interceptoras de diferentes freqüências e aparências de vazio, para entrever a fêmea. nela me lanço como gestação desse espaço de vibrações, de armadilhas, e instauro o ritual pré-imagem do meu próprio sujeito.
após racionalizar em parte essas tentativas, denomino-las de miméticas. Mas estou certo, agora, de que elas não consumarão nenhum objeto mimetikos definido, pois esse objeto depende de uma ordem exterior e de credibilidade (e toda crença é fugaz, salvo ameaças fascistas ou cristãs, que forçam, sem escrúpulos, não abandoná-las). daí a natureza necessariamente como produção.
a produtividade humana é maquínica porquanto o Ser ou a veracidade só podem ser a própria transformação (ou movimento) e, desse modo, são verdadeiros, como o amor em noel rosa - para que exista precisa instaurar um campo simbólico da verdade. isso ocorre com a mentira, um artifício catártico de reconciliação.
pode-se aproximar a mímese a um campo ou dimensão das certezas, no qual a fêmea é uma força geradora refratada enquanto pressentimento da imagem.
Postado por allan de lana às 1:00 AM 0 comentários
045
Uai!
Depois do quarenta e três
Não é o quarenta e quatro?
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044
Ufa! Se você não avisasse
aqui teria um poema-vácuo.
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045
ALERTA:
Bug do milênio!!!
Postado por allan de lana às 11:41 PM 0 comentários
042
sou exatamente
quem pareço
Ser.
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043
...
- igualzinho ao pai!!!
(que fofo.)
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uma cabeça (em instância) still de Tobby Damit, dirigido por F. Fellini (fotografia, se não me engano, é de Jean Renoir).
Postado por allan de lana às 10:06 PM 0 comentários
voltamos de cabeça baixa, olhando evasivamente para os lados. Mas os nossos órgãos todos pendiam para um único ponto, tensionados por um mesmo elástico. Quem olharia primeiro, para ser tragicamente arremessado e recolher-se na visagem daquele medo? Quer dizer, em linguagem simples: estivemos longe um do outro, e isso nos incomodava, pois éramos culpados pela distância, e um certamente expiaria por fustigar o silêncio (é esse, o culpado). Então inventei um terceiro com extrema verossimilhança, de modo que ela (a minha companhia) o reconhecera na memória. (Mas não passava, no fundo, da figuração indireta de um andarilho que carregava latas vazias amarradas na cintura). Culpamos-no logo por tudo e no fim das contas foi uma saída simples. Estávamos curados!
Postado por allan de lana às 10:52 AM 0 comentários
notação sobre a figura
um sentido: afeita à imitação platônica, a figura se impõe como a verdade objetiva ideal, moral e correta. Ela educa os indivíduos para levá-los ao bem Universal, ensina-os como e o que devem querer. Essa educação é figurativa. O figurativo é o símbolo com característica de mero ícone sem códigos de referência, como a marionete que funcionaria sem um manipulador. É esse conteúdo estranho e não visto que amarra o ímpeto iconoclasta infantil, capaz de estribuchar o estado normal dos elementos em busca de interior. Assim, o educador infantil platônico tem como guia metodológico a necessidade de impor castigo à criança, para proibí-la à experiência com o estranho. Pretende-se prevenir contra a experiência de morte (o vazio, o não-senso), que ao mesmo tempo guarda a possibilidade de descoberta e vitalidade. A relação com o ícone opaco pode ser, ainda, perversa ao destroçá-lo, prática também inibida. Educação figurativa é a coação para o dominante forjado com objetividade.
método e intenção
a educação figurativa ultrapassa a questão da técnica, que enquanto habilidade independe do motivo ou da representação à qual se presta. Entretanto, a técnica acaba por vincular-se à idéia e às premissas morais do artesão ou da instituição que a ensina. As dimensões ideológicas de duas colagens semelhantes, por exemplo, podem ser extremamente distintas. Uma pode deliberar a mímese como movimento bio-fisiológico construtivo, ou projetivo ou, ainda, perverso. Outra instaura a mímese ideal, o modelo de comportamento social, do qual deriva o respectivo plano estético. Esse constitui uma Estética de juízos, não estética de sensações, de sentidos ou de diferenças significantes. Por isso, a figura (diferente de figuração ou figurabilidade) não é um universal contaminador do simples fazer comum da criança que compõe uma casa no campo ensolarado (ela pode estar fazendo isso à diferença do ideal do adulto que tentou condicioná-la, interagindo com a linguagem disponível ao jogar com designações pictóricas pré-existentes). A educação figurativa, como outra qualquer, vai além do método, mas porque parte de intencionalidade exageradamente moral. O que nela se ensina não pode ser arte figurativa, porque ela não pode ser disciplina particular, como a pintura, por exemplo. Para ela disciplina é o sinônimo de obediência. Seu método: punição e crítica; sua intenção: controle.
Postado por allan de lana às 12:09 AM 0 comentários
melencolia
Heráclito: "A mais bela harmonia cósmica é semelhante a um monte de coisas atiradas."
Antônio Vieira: "A ironia tem contrária significação do que soa: o riso de Demócrito era ironia do pranto; ria, mas ironicamente, porque seu riso era nascido de tristeza e também a significava; eram lágrimas transformadas em riso por metamorfose da dor; era riso, mas com lágrimas ..."
Postado por allan de lana às 10:57 PM 0 comentários
aquele que chegou próximo da escuta estética correu o risco de se tornar especialista, porque em nossa moral não se pode deleitar do sofrimento alheio, nem demonstrar sentir o cortante da fala. Daí uma prática cuja função, na sociedade captalista, é o recalque dos sujeitos que a constituem, dos seus profissionais.
talvez, porém, os surrealistas tenham reivindicado um gozo-de-escuta na fala, na prática da projeção de pensamentos associativos. Esse foi o seu anti-modelo terapêutico. Degringolara, o dada, até que filhos dele descobriram limites expandidos que um plano melancólico e niilista trazia enquanto vontade! O desespero pode ser e parecer amigo do simbólico, ou seja, ser perverso com um círculo que o domina e desdobrar a ordem (o mando) em suas possibilidades mais progressivas, fazer assim o seu método não-estruturalista de educação.
Será possível um método da educação por intermédio da escuta, uma sociedade das falas in-materiais em que o livro de memórias e coisas acabadas não seja mais uma instituição? Será possível levar, ainda, esse ideário além de um plano de harmonias e construí-lo na instabilidade suburbana, como uma escuta marginal?
- respostas a essas perguntas a cargo de outras gerações.
Postado por allan de lana às 10:05 PM 0 comentários
metafísica do livro - o ritual
1) oferecemos o corpo, para que as páginas o fatiem;
2) abrimo-nos aos prazeres do não-senso;
3) deixamos que fístulas nos desenraizem e descorporifiquem - a leitura é infecciosa;
4) fazemo-nos vel e névoa a-histórica distendida;
5) cosmificamo-nos;
6) sentimo-nos flutuantes e singulares;
7) por último, desconfiamos que o simbólico nos sujeita - o nosso livro e filosofia resultaram de uma doutrinação hegemônica.
... depois, ainda, além do imaginável, esquecemos - olvido-é-válvula.
"(...) E como, de fato, há no texto [bíblico] tanta coisa obscura e inacabada, e como ele [o crente] sabe que Deus é um Deus oculto, o seu afã interpretativo encontra sempre novo alimento. A doutrina e o zelo na procura da iluminação estão indissoluvelmente ligados ao caráter do relato - este é mais do que mera 'realidade' - e estão, naturalmente, em constante perigo de perder a própria realidade, como ocorreu logo que a interpretação atingiu tal grau de hipertrofia que chegou a decompor o real".
AUERBACH. Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2004. P.12
Postado por allan de lana às 1:01 PM 0 comentários
Interessante... Garimpando nos cafundós das minhas lembranças que foram escritas para poderem ser esquecidas encontrei uma mosca e um mosquito. É assim, lendo, que de muito se lembra. Portanto, alguém que leia meu escrito pode lembrar por mim daquilo que eu mesmo sequer imagino que existiu um dia. Mesmo que eu me tenha encarregado de escrever (e esquecer). Segue um novo achado, agora devidamente catalogado e numerado.
039 (A Mosca e o Mosquito)
Zumbido
Mosca
Mosquito
Escondidos
Zumbido
Mosca
Mosquito
Aflito
Zumbido
Mosca
Mosquito
Lixo
Núpcias ao relento
Zumbidos gemidos no vento
Mosca
Mosquito.
Postado por allan de lana às 4:26 PM 0 comentários
a fotografia na microexperiência social
"moça, tira uma foto minha ali?"
comportamento típico de mãe curitibana é obrigar suas crianças a fazerem o mesmo...
Postado por allan de lana às 2:01 AM 0 comentários