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allan de lana

domingo, novembro 03, 2002

Meus pés, minha animalidade

Meus pés, minha animalidade,
pisam bem próximos de fundirem-se ao mundo.
Neles estão minhas memórias
meus ancestrais, espíritos gravados nas pedras.

Não são minhas mãos que os anjos alcançam
nas horas em que caminho.
Piso suave na memória que me descansa
mas sinto a preensão tardia
da mão que me quer, ora que me desmancha.

O polegar opositor invade
os monumentos das mãos tecnocratas,
espreme contra o indicador meu caminho,
desinfetado o sensível tão frágil pela chuva ácida,

antes que me esmague a traquéia
ponho-me a gritar as imagens que vejo
perdendo-se nos desconfortários arquitetônicos

e acalmo-me do delírio crônico da cidade
Com os pés reconfortados sobre a vida.

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