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allan de lana

domingo, dezembro 01, 2002

Introdução à Corrupção da Consciência

Não imagino o motivo de tal inversão. Não começarei esse texto delimitando o tema que já foi delimitado pelo título, nem apresentando minha tese. O fato é que ontem cheguei à conclusão de que sou analfabeto em teatro e em cinema. Isso me induziu agora a lembrar exemplos de vídeos que trabalharam diretamente ou por meio do "não-dito" (princípio que não explicarei, porque assim se tornará dito) com esse assunto. Por isso, resolvi começar pelas recomendações finais. São dois os filmes: Billy Eliot e Língua das Mariposas.

No primeiro, mais simples, direto e negativo, uma criança é levada a repudiar comunistas, induzida ao aborto de sentimentos antes que se tornassem emoção e, mais além, expressão, após e durante a qual há um processo de clarificação, de ganho em autoconhecimento e lucidez. No segundo, cujo desfecho é positivo, há uma conversão do comportamento do pai boxeador cujo filho queria ser bailarino. A superação de um preconceito ocorre no momento em que o adulto resolve "adotar" suas próprias emoções. Diz Aaron Ridley, acerca do conceito Collingwoodiano: "Uma consciência corrompida ou 'falsa', ao contrário, é uma consciência que, em razão da falha em clarificar seus pensamentos e sentimentos, recusa-se a reconhecer suas experiências como suas próprias." (2001, p.17)

Collingwood leva a problemática à arte e ao artista e desses de volta ao mundo. Para ele a arte é a cura oferecida da doença da Corrupção da Consciência e, talvez não tão hiperbolicamente como possa parecer, para a morte a qual essa doença implica - no que discorda, no entanto, Ridley.

Não obstante, o próprio Ridley atribui o que denomina exagero ao clima promovido pelo fascismo europeu dos anos 30. O que é descrito então pelo autor para traduzir os efeitos desse fascismo é assustador. Não que devamos ter medo do passado, mas, no entanto, do presente, do perigo de alguns críticos, de alguns jornalistas, jornais "da comunidade" ou "de Brasília", de consciências fracassadas ao se deixarem corromper. Elas não são mentirosas, nem tampouco enganadoras, mas simplesmente ficaram alheias à sua verdade e conhecimento devido à uma "analogia com o que pode ocorrer entre um intelecto e outro" (Collingwood, citado por Ridley, 2001, p. 18), falhando no conhecimento de si mesmas. Eis a tão trágica realidade dos anos 30 que implicou em uma epidemia dessa doença: "Não apenas na Itália, Alemanha ou Espanha, mas também na Grã-Bretanha, as pessoas estavam sendo impelidas por uma onda de 'sentimentos não-domesticados' a adotar, da boca de demagogos, pensamentos que não eram verdadeiramente seus".

Passe agora os olhos por sobre uma tal América, da qual nada aqui foi dito nem será, a não ser que é capaz de matar a quantos forem como simples, tranqüila e coriqueira publicidade. Constatará, como eu, que Collingwood estava certo?

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