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allan de lana

quarta-feira, julho 16, 2003

Dias bons lembram fatos agradáveis
Férias. Monitoria garantida para o semestre que vem... A exposição, que mesmo com greve da biblioteca teve exatamente 100 visitantes que assinaram o livro e muitos elogios de pessoas que se sentiram também elogiadas...
Lembra de dizer oi para os visitantes e leitores do eau de parfum, que são poucos, mas são meus amigos (sim, eu acho que conheço todos, me satisfazem muito).

O principal agora vem de um quase-impulso de fugir para São Paulo. Sei... eu sei que isso parece um romance caduco de escritor tuberculoso, sempre me debelando por São Paulo e nunca vou lá. Acabo culpando-o por ser longe, por sair caro... Por eu não poder parar de estudar quando está no meio do semestre. Mas agora eu tenho uma possibilidade, sem ter que vender meu corpo. Quero fugir junto com a Dany, nós queremos, merecemos.

Enquanto não chega o fim-de-semana e eu não decido de uma vez por todas, sobra um tempo para arrumar minha bagunça. Achei nela uma espécie de poema-manifesto que tinha as primeiras estrofes meio complicadas, preocupadas demais com história da arte, o que não ficou muito fluente. Compreendo nele o motivo da minha afinidade com Hall Foster e Fredric Jameson. Não é tão complexo perceber a nossa realidade como eles sugerem, passados recuperados e futuros adiantados. Não é tão difícil perceber que às vezes a compreensão do presente faz mais sentido quando o julgamos psicótico. Difícil, sim, é justificar perfeitamente tudo isso, sustentar como tese. Eles não conseguem, porque eu conseguiria?

Compreendi essa afinidade, depois tomei a liberdade de fazer alterações, tirar e colocar versos, redividir estrofes etc. O poema ocupa duas páginas (metade de um A4 cada uma), na segunda há muitos cabides desenhados com uma só linha. O título (005) faz sentido porque estou colocando números em alguns dos poemas que tenho achado sem título e que, de certa forma, ficariam piores se entitulados com palavras muito escolhidas.

Só para terminar, gostaria de lançar uma pergunta: como pode ser verdade que "é arte que há parindo a vida" se não existe para arte sequer uma definição? Já que a vida também é uma idéia abstrata de mais, estabelecer essa maternidade não seria uma grande confusão entre estados impossíveis de se assemelhar a qualqer coisa a não ser por dessemelhança? Respostas podem ser grandes e complexas, para o e-mail abaixo do Passo do Pato (acima, à direita).

005
Há caverna onde houver concreto
Abrigo onde apartamento.

Há pré-história onde houver sujeito
Pegadas onde calçamento.

O pé sentindo a lama
É o corpo sensível, o nódulo dos sentidos.

Faz-se ver com a mão nos ouvidos:
O tato da cor cheira e trama

Por entre a trama a picada
Sinapse na teia urbana.

Acordai ao interior íntimo das pegadas.

Vide a origem dentro do mundo
Flanqueando sua essência com o sentir contaminado por cotidiano.

É arte que há parindo a vida
Na materialização da idéia cristalina

Na lucidez que suplanta a rotina
Olhai sentindo os pedaços derramados, artistas.

Há um pequeno e íntimo delito;
Multiplicai-o, ele é arte, olho d'onde nasce a vida.

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