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allan de lana

sexta-feira, agosto 01, 2003

Acabou a FotoArte 2003
Programas artístico-culturais em Brasília têm sido cada vez mais freqüêntes. Não se tem ainda, por exemplo, uma grande homenagem ao Buñuel, que completou seus 20 anos morto, como a que o Centro Cultural de São Paulo está aprontando e que vai até o dia 10.

Mas, com a promessa do CCBB de trazer Andy Wahrol e Keith Haring de Sampa para cá e, depois de tudo o que já foi realizado por nossos marketeiros culturais da Caixa, Banco do Brasil e Itaú, nota-se que Brasília está, há tempos, entrando nos circuitos da arte institucionalizada, pelo menos isso.

Agora, com a iniciativa dos organizadores da FotoArte, difícil foi reclamar da falta de galerias, lazer e trabalho para os olhos. Invadindo todos os espaços institucionais, do Casa Park à CAL, passando por grandes instituições financeiras, o evento serviu para percebermos que há bons curadores e muitas possibilidades de espaços culturais na cidade.

Por outro lado, vemos tristemente que muitos dos bons e promissores espaços sobrevivem da paixão, que consome em favor da morte própria e da falência, o que ocorreu há poucos mêses com a Arte Futura. A arte se torna notória em nossa cidade porque ela pode ser a forma melhor de sonegação de impostos, amparada por lei, forma pela qual certas instituições, de telefonia, por exemplo, podem escolher espetáculos com os quais vão lucrar, de grandes ídolos feitos pela indústria da cultura de massa, transformados nos deuses e a verdadeira fé do nosso povo. Por isso faliu a Arte Futura, porque pretendia fomentar projetos despreocupados com a criação do povo como se fosse um gado obediente e comedor de uma certa ração.

Essa falta de produção verdadeira, o pouco lucro em mostrar conhecimento e dar acesso a fenômenos essenciais de formação do sujeito, foi uma das cartas pouco válidas para o envento em questão, a FotoArte 2003, embora o lucro certo, pensado estrategicamente, e a imagem institucional estejam sempre puxando a carroça. Mesmo nossa Excelentíssima Secretaria de Cultura, que se move sempre para a reeleição do governador que estiver eleito e que, atualmente conta com um funcionário que põe o pé na mesa e cospe fumaça na cara de artistas novos, o Magela, recebeu em seus espaços a alta qualidade do trabalho de curadores como a Professora Grace Freitas, no MAB, e de artistas como o Rafael Assef, no Espaço Cultural Renato Russo.

Tivemos motivos para grandes emoções. O Centro Cultural Brasil-Espanha abrigou exposição de Marcelo Buainain, um verdadeiro poeta-viajante, cujo trabalho fotográfico tem a grandeza do espírito do fotografado e a dimensão Cezanneana do sujeito no mundo, em que no "um" é incluso, refletido, o todo, exposição na qual eu mesmo não consegui chegar a tempo. Ela fechou horas antes da minha chegada, informou a secretária.

A cada dia o eixo da arte se fortifica em Brasília. Na contramão da arte mais avançada feita hoje em dia, que faz questão de ir para fora dos centros de retenção do capital privado e chegar também ao barraco, sem esquecer-se da mansão, apagando a lógica do falo ereto no meio da esplanada, Brasília - o primeiro projeto a usar a arte de forma literalmente Concreta, a ser vivida por seus personagens, ao mesmo tempo seu público - ameaça crescer culturalmente. Para que lado já vai ela, para o do projeto utópico do grande Lúcio ou o do projeto centralizador do grande Lúcio?

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