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allan de lana

quarta-feira, outubro 02, 2002

Divagações acerca da arte de mim mesmo e convite
Para mim, que necessito de transcender a arte como terapia ocupacional - o que não me foi prescrito por nenhum terapeuta - questionando, produzindo e buscando respostas teórico-práticas, toda expressão nasce como a história mais ou menos em sua ordem cronológica. É uma pena eu não ter um scanner aqui do lado para desenhar o que estou pensando e postar em seguida, mas, intelectualmente (embora eu não seja, nem queira ser classificado como intelectual), evidências apontam para o fato de que as transformações históricas da arte passam por questões evolutivas do próprio indivíduo artista e a documentação dessa história permite a evolução rápida de um pensamento primitivo ao posicionamento atualizado, ou contemporaneizado.

Encontro nessa observação um ponto em comum com o tratamento da linguagem como ideologia de Fiorim: a ideologia expressa em um discurso (e uma obra artística é um discurso) aparece na superfície deste, mas as suas aglutinações e pontos originais encontram-se no nível profundo de sua formulação. Questionar e buscar respostas formam, então, um par de construção da ideologia, ou seja, de escolha dos elementos discursivos a partir do tecido da linguagem, que passa pela busca de outros discursos acerca dos mesmos questionamentos. Por isso, dizemos que não existe formulação e organização de conhecimento sem que haja citações, ainda que suas origens não sejam explicitamente citadas. Como falo sobre mim mesmo, a utilidade dessa observação é constatar que minhas perguntas acerca de minha própria produção, ainda lenta e pequena, só são respondidas em virtude de o encaminhamento dos humanos de um estado primitivo a outro mais evoluído ser semelhante. No entanto, um recém nascido é acelerado pela sociedade em que vive, um artista é acelerado pela arte e pela sociedade as quais vive.

Essas questões, que podem parecer inúteis, embora sirvam de motivação às metodologias de pesquisa científicas, têm sido saudáveis ao me fazerem perceber que pela velocidade com que me acelerei enquanto "artista" (no sentido prático, pelo menos, mas sempre sustentado pelo sentido teórico) nesses últimos três anos em que me dedico à pintura e, sobretudo, nos últimos meses (talvez uns oito), durante os quais realizei sérios questionamentos acerca da falsidade e da veracidade da arte (ainda que ambas sejam verossímeis), minha evolução "histórica" foi bastante satisfatória. É possível dizer que, embora meu organismo acumule dúvidas, relacionadas ainda a diversas épocas, que não foram respondidas, presencio uma proximidade cada vez maior com os questionamentos atuais - talvez faltem uns 50 anos para eu poder-me considerar aqui onde estou. Atualmente, proponho que nos aglutinemos, artistas e sonhadores, para que consigamos suprir um pouco da vontade que o cotidiano tem de pausar para o descanso e repensar a sua desordem, o que a arte nossa pode conceber invadindo-o com miniaturas ao invés de engasgá-lo ainda mais com farelos arquitetônicos. Essa é uma postura semelhante ao método negro de não-violência, influenciado por Gandhi e Mandella e funciona bem. Todos estão convidados.

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